quarta-feira, 22 de março de 2017


FEMININO


São as ninfas
são as musas
as mulheres com o seu riso
As Dríades e as Nereides
Crineias nas suas fontes
e as mulheres despertando
Dentro do próprio sumiço
São as deusas, as sereias
enfeitiçando o cantar
as mulheres tecendo as teias
Penélope Euterpe Eurídice
de meiga pele ambarina
as mulheres correndo em busca
Na sua pressa felina
São sibilas, amazonas
profetisas, feiticeiras
as mulheres querendo voar
Com os espíritos femininos
valquírias de espada honrosa
de mulheres ousando o risco
Com alegria nervosa
São sílfides com voz de vento
são as ondinas nadando
seguindo a rota dos rios
As salamandras ardendo
de si mesmas sequiosas
Morgana com os seus filtros
De invenção harmoniosa
São adivinhas da água
sufragistas, feministas
na haste do pensamento
Renascendo com vagares
à sombra da própria seda
na chama rubra da tenda
São as mulheres do meu tempo
Mudando a eternidade
e a vida em seu sustento
sem jamais cicatrizarem
Os séculos de esquecimento

Maria Teresa Horta
In «Poemas do Brasil», 2009, Editora Brasiliense, S. Paulo (livro inédito em Portugal).

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