segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Natal 2016

A árvore de Natal na Praça do Município no Porto



Não gosto mesmo desta árvore!.
Cresci com Natais onde a família se reunia a comer coisas boas, em despiques de receitas de avós, a cantar e tocar cânticos da época, a recitar, a contar anedotas que arrancavam gargalhadas frescas e saborosas, a jogar à bisca a pinhões, e tudo se passava dentro de casa na proximidade da lareira. 
Necessariamente que a ceia de Natal da Morgadinha do Júlio Diniz era recordada  para credibilizar a ideia que, naquela noite, todos se obrigavam a trabalhar na cozinha, tal como o Conselheiro fazia. 
Tinha uma Tia Avó que se reconfortava a dizer que nesse dia todos tinham comida e agasalho. Lá na aldeia seria assim! O mundo circunscrevia-se ao perímetro da área das nossas influências!
Os sapatos eram deixados à volta da lareira da cozinha, porque era por essa chaminé que para uns, o Menino Jesus, para outros o Pai Natal, desceriam com o saco das prendas. Era uma prenda para cada um e mais nada!
Este folclore S. Joanino que o Porto tem vindo a adoptar não é de todo o meu Natal!
 Natal 2016

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terça-feira, 1 de novembro de 2016

2, Novembro


                     No Aniversário  do meu Pai
            

                       Com saudade





          
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sábado, 24 de setembro de 2016

A feira das Fontaínhas



Fuga da escola, sem conhecimento da minha Mãe, com duas companheiras da 4ª classe à feira das Fontaínhas, a 2km, na aldeia de Balazar. Comíamos cerejas quando uma pessoa conhecida nos viu e registou nesta fotografia.
Vê-se a zona dos chapéus de palha expostos no chão e também a forma como as minhas amigas se vestiam. Como mulheres adultas e descalças!
Uma recordação!
 

 Ainda a propósito da feira das Fontaínhas 

                  Na feira, como era habitual, transacionavam-se os produtos agrícolas da região  e  além disso, desde  socos, passando por um talho e uma ourivesaria, havia de tudo por lá. 
A Ana, empregada da casa dos meus Pais que entrou quando eu tinha 3 anos e que não saiu,  danava-se por ser negociante! Era um sonho que nunca teve oportunidade de realizar; mas sempre que a ocasião se proporcionasse, não a enjeitava. E foi assim com a venda de uma galinha.
A galinha era velha mas, se a minha Mãe falasse nisso, logo atalhava: 

- Oh minha senhora, esta galinha é muito boa para o choco!
Isso queria dizer que a galinha gostava de estar no ninho e aceitava pintainhos de outras , desde que não desse pela batota de lh'os meterem debaixo dela sem ela dar por isso . Assim,  libertavam-se as outras galinhas do choco, o que as tornava aptas para porem ovos mais cedo.

                  Um sábado de manhã disse para a minha Mãe:
- Minha senhora, vou levar aquela galinha à feira; ela não está bem!
Com alguma relutância, a Mãe  deu-lhe autorização para isso,  mas preveniu:

- Depois não se queixe se a trouxer de volta.
Ao fim da manhã aparece a Ana com umas compras de  sementes e mais um dinheiro que entregou assim:
- As sementes e o troco;  é o que a galinha deu.

                  Quisemos saber como foi. Muito simples. Um "bacoco de um homem" que passou junto dela olhou para a galinha e ela chamou-o:
-Oh senhor leve-me a galinha; preciso de  ir embora que tenho a patroa à espera!... e foi contando, contando quem eram os patrões,  aos anos a que já lá trabalhava e garantiu que a galinha era boa! 
- Mas não era!...
- Sim, mas isso que visse ele. 


  C C

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segunda-feira, 11 de julho de 2016

11 de Julho



Recordo o meu Pai com saudade!                     



quinta-feira, 9 de junho de 2016

Olhos postos em Paris

Continuar a olhar Paris!
A sua cultura e a sua liberdade!
No momento, o centro de todos os olhares.


 Boris Paul Vian 
(Ville-d'Avray, 10 de Março de 1920 — Paris, 23 de Junho de 1959)
Polimata (engenheiro, escritor, poeta, tradutor e cantautor francês) surrealista e anarquista


Conselhos a um Amigo

Amigo se queres
Ser poeta
Sobretudo não armes
Em imbecil
Não escrevas
Canções demasiado estúpidas
Mesmo que as grunhas
Gostem
Não ponhas
O acessório idiota
Nem o sombrero
do México
Não ponhas
O perfume escaldante
Nem o alcatraz
Exótico
Põe flores
E alguns beijos
Ternamente depostos
Nos seus lábios
Põe notas
Em bonito ramo
E depois canta-as
No teu coração

Boris Vian, in "Canções e Poemas"

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terça-feira, 24 de maio de 2016

Poesia





 MARIA DA NAZARÉ


 «Mais uma carta, um bilhete, um conto, um poema, um livro, uma memória muito antiga ou atrasada de menina absurda...
Quem sabe de nós qual?
Tu,,, serena, sedenta, demiurga,
Alumbrada?
Aturdida?
Quantas vezes mais te vou escrever?
Criar-te na invenção da pétala de sedução resgatada, recriando-te Maria ao julgar encontrar-te, redescobrir-te na lisura ligeiramente encrespada de luar das noites mais claras,,,
A espreitar-te:
por uma fresta de nada, uma nesga de tempo, por uma fissura de farpa, um sulco de céu.
A imaginar-te ou a descrer-te, se fosses tal como te queriam no disfarce do nada, e para tal te truncaram a imagem, trocando-a por aquela que eu sempre desmenti - desminto, acreditando no teu sussurro de aragem-folhagem ou conivência sombria.
Colho-te, Maria, a palavra abismada:
Liz
Lírio
De pureza,,, cercada
Dizendo-te rosa no deslumbre-lume dos astros, tal como relembras Gabriel na sua cintilação de asas que te cobriam-encobriam, colhiam no resguardo da sombra.
Procurei-te na poesia, na minha poesia, por ser o único indício de mim que reconheço: poema após poema, após poema...
Pelo teu avesso ignoro o meu direito
E sei do teu direito, através do meu avesso tecido no grito, no gosto e na desobediência.
Por ser essa, Maria, nossa única maneira de surdir.
Partir?
Pois enquanto te escrevi, olhei
o estilhaçar do cristal da tua alma. E no teu rosto eu vi tal como na minha cara,
doces estranhezas ávidas:
cada ruga de riso; cada rego de lágrimas.»
Lisboa, 23 de Maio de 2016
Na foto, Maria Teresa Horta autografa o texto transcrito acima, a pedido de José Tolentino Mendonça.

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Recordações



Hoje recordo a Ana, empregada dos meus Pais, com quem cresci desde os 3 anos e nos deixou faz hoje 13 anos.
Na foto com a minha primeira neta.
É uma figura marcante na minha vida.


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22 de Maio



No Aniversário da minha Mãe.

Com saudade



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quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Atropelamento


 Igreja do Carmo - Porto





                             Há já 3 anos vencidos, fui atropelada numa passadeira nesta cidade do Porto, em sinal Verde para peões e Amarelo intermitente para carros. O condutor disse que não me viu. Bem vistas as coisas o condutor era inábil! Assumiu, no entanto, a responsabilidade do atropelamento perante a Polícia.
A Companhia Seguradora LOGO é que não.
No início, aconselhou a fazer as despesas necessárias que depois pagaria.
Na altura de pagar, já não foi da mesma opinião.
O meu advogado colocou a questão em Tribunal e este deliberou em meu favor.
A LOGO interpôs recurso para o Tribunal da Relação e a resposta veio ontem.
No relatório contraria-se a decisão da 1ª Instância, reduzindo vergonhosamente a indemnização por danos não patrimoniais oportunamente atribuída. Mas os fundamentos não se apoiam em jurisdição existente; mas, e transcrevo, (...)Na ausência de uma definição legal, a doutrina portuguesa acentua que o julgamento pela equidade "é sempre produto de uma decisão humana que visará ordenar determinado problema perante um conjunto articulado de proposições objectivas; distingue-se do puro julgamento jurídico por apresentar menos preocupações sistemáticas e maiores empirismo e intuição"(...)
E é dentro desse empirismo que os juízes da Relação do Porto intuíram coisas assim, e transcrevo: (...)verifica-se que estamos perante uma cidadã já com 78 anos à data do acidente, o que lhe confere uma esperança de vida não muito longa.(...)
É óbvio que não contesto a veracidade da afirmação mas, o que me repugna é a forma da sua utilização.
E então poder-se-á perguntar: à medida que o tempo passa
já não é preciso indemnizar tanto?
O relatório é extenso e todo ele deixa transpirar falta de jurisprudência onde se apoiem as decisões.
Mas uma coisa se conclui facilmente. Se já lá vão 3 anos neste impasse, com argumentos destes, qualquer dia a indemnização fica em zero!
Mas como o caminho se faz caminhando, caminharei até ao Supremo.
Já vou a caminho...


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Nuremberga



AVESSO

O meu oposto contrário
está no avesso do sol
e na invenção da sombra
*
No sobressalto
da folha
onde o poema desfolha
*
Me inventa, sabe
e lembra
me questiona e sustenta
*
Me incendeia e relembra
me respira
e me desvenda
*
(inédito)»
Maria Teresa Horta



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domingo, 3 de abril de 2016

4 de Abril Lembrar a minha irmã

Porque sei que gostavas deste poema

Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
                               deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Recordar Almeida Satos


 
 Almeida Santos (1926-2016)

                        Conheci Almeida Santos num  baile de gala  em Lourenço Marques. Estava de visita a Moçambique integrada no OUP e entre as diversas recepções e festas com que fomos distinguidos, havia um baile de gala. Estava lá a fina-flor e também Almeida Santos, que fazia parte dela.
Recordo-me  de ter dançado, mas sobretudo,  de ter conversado. Eu era uma jovem pré-finalista de Medicina e ele, mais velho, apresentou-se como um advogado bem instalado, discordando politicamente do poder.
Mas eu não soube isso logo. Foi depois de uma conversa sinuosa, cautelosa e, quando deu conta que a interlocutora não receava a defesa da independência das colónias, não pela via do apartheid da vizinha África do Sul, mas pelo reconhecimento do direito à auto-determinação dos povos locais, com um sorriso disse: - "tenha cautela"!
Falamos de muitas outras coisas e fiquei convencida que estava perante uma pessoa culta, muito inteligente  e que se ocultava por lá........até ao 25 de Abril!


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

À espera do Capitão Rodolfo

           

               Na passada "Quadratura do Círculo" esteve presente o actual Primeiro Ministro que expôs de forma sucinta, mas elucidativa, as medidas  já tomadas na governação  sobre questões importantes, nomeadamente a reavaliação das últimas concessões e privatizações. É claro que, estando presente Pacheco Pereira, este não poderia deixar passar o momento sem  perguntar: 
- AO, sim ou não?
António rodeou, rodeou, foi buscar este Luís e o outro  Luiz  e que hoje já ninguém se incomoda  com isso, e pensando que se safava, acabou por dizer que cada um escrevesse como quisesse. 
- Para isso, então, vai ter que modificar os textos escolares e dar essa ordem às Escolas, disse PP. 
E mais assim e mais assado e a resposta concreta tardava.
Foi assim que, por uma associação de ideias, recordei a importância que o meu Pai dava à escrita, da acção de cidadania que desenvolveu,  interessando na cultura aqueles que não tinham dela  a menor ideia,  e por último veio-me  à lembrança a história  do capitão Rodolfo.
 *****
               O Capitão Rodolfo era um personagem de uma peça de teatro que o meu Pai ensaiou  com um Grupo  criado por ele, e que era constituído por pessoas da aldeia onde nasceu e que com a 4ª classe da época,  mais o pouco uso que lhe davam, mal sabiam ler. Formou o grupo,  arranjou sala, palco, cenários, guarda-roupa  e quando tinha tudo isso, lembrou-se que precisava de música. Não havia energia eléctrica. Havia a grafonola, mas não era isso o que ele queria.  
Então, disse-me assim: 
- Temos que organizar uma "orquestra". Eu toco violino. O primo Joaquim toca piano, ou o que for preciso!...  
Estalou uma gargalhada e prosseguiu.
- O primo José toca violão. Tu tocas banjolim.  Vou-te comprar um,  porque estás um bocadinho crua no violino para nos acompanhar!......
Outro riso! Tinha eu 10 anos e estudava  violino.
Faltavam as músicas mas, como era habitual, o seu amigo Dr Josué Trocado (avô de Freitas do Amaral) escrevia e orquestrava o que lhe pedisse.

*****
Chegou a Estreia!
Na primeira cena estava um indivíduo sentado na soleira de uma porta; um relógio batia 12 badaladas. O  homem levantava-se e elevando e baixando o braço direito de uma forma cadenciada, jeito que não foi possível modificar, dizia: 
-" Meia-noite....  e o capitão Rodolfo sem chegar.......ter-lhe-ia acontecido alguma desgraça?"
 Não me lembro da história, mas sei que o capitão Rodolfo  nunca chegou! 

*****

Tal como o capitão Rodolfo, a anulação do AO não chegará!
- Não  haverá novo AO nem se anulará o existente; disse o António com ênfase no Não !
Quem estava à espera disso, é melhor sentar-se .......


       CC    


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