quinta-feira, 25 de abril de 2013

No 25 de Abril a actualidade do Zé Afonso


Na Rua António Maria
da primaz instituição
vive a maior confraria
desta válida nação

E muita matula brava
ainda teimava
que havia de vir
um dia assim de repente
para toda a gente
voltar a sorrir

Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique

Tem quatro letras pequenas
Mas outro nome não dão
Nesta fortaleza antiga
Só não muda a guarniç:ão
E muita matula ufana
cuidando que a mana
morrera de vez
deu graças
à D. Urraca
ao som da ressaca
que o pagode fez

Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique

Na Rua António Maria
convenha a todos saber
a patriótica espia
sabe bem onde morder
vela p´la nossa morada
no vão de uma escada
Sem se anunciar
e oferece a quem bem destina
um quarto de esquina
com vistas pró mar

Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique

Aldeia da roupa branca
suja de já não corar
O Zé Povo foi pra França
não se cansa de esperar
O capataz da fazenda
pôs a quinta à venda
para quem mais der
e os donos marcaram tentos
com novos intentos
doa a quem doer

Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique

José Afonso

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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Poesia



                                             
 MULHER-POETISA

Pareces um mistério
intransponível

Alguém que se
esquivou
ao seu preceito

Na recusa
de obedecer à vida

Ao quererem-te domada
e desse jeito
dócil obediente submissa

«Impossível!» - respondeste
branda e esquiva

Sou mulher
Revoltosa
E poetisa

Maria Teresa Horta
in «Poemas para Leonor» (D. Quixote/Leya), pág. 71.


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Cravos Vermelhos




Bocas rubras de chama a palpitar,

Onde fostes buscar a cor, o tom,

Esse perfume doido a esvoaçar,

Esse perfume capitoso e bom?!

Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas

Doidas de luz, ó almas feitas risos!

Donde vem essa cor, ó desvairadas,

Lindas flores d´esculturais sorrisos?!

…Bem sei vosso segredo…Um rouxinol

Que vos viu nascer, ó flores do mal

Disse-me agora: “Uma manhã, o sol,

O sol vermelho e quente como estriga

De fogo, o sol do céu de Portugal

Beijou a boca a uma rapariga…”

Florbela Espanca

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