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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

a notícia



 A dança da vida - Edvard Munch



"A Segurança Social só garante a reforma por mais um período de oito anos".

A notícia estalou numa voz vibrante, clara, com a exaltação de quem anseia pelo efeito da grande audiência.  Depois veio a justificação, e a clarificação das consequências. E, dizia: embora  a esperança de vida tenha tendência a aumentar,  passando por isso a haver mais velhos,  muitos deles irão morrer. E pelo modo  da notícia, isso até dava jeito.  É claro que isso é a realidade; mas o que eu supunha, era que o jornalista já saberia disso antes; e não precisava de tanto entusiasmo para o constatar.

Esta notícia, porque me atingia particularmente, pôs-me a fazer contas. E, das várias  hipóteses  que dela poderiam resultar, curiosamente,  nenhuma  tinha nexo. Quando os anos, cautelosos, reclamavam a sua posição dianteira, logo o cérebro, reclamava a sua posição  em retaguarda. Neste impasse, e se a nossa vida é a que  o nosso cérebro nos dá, as contas anunciadas pelo jornalista não batiam certas.

Então, "que se lixe" a notícia e o jornalista.

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domingo, 22 de julho de 2012

Poesia


 Edvard Munch

 
Dies irae


Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!


Miguel Torga