terça-feira, 27 de março de 2012

Dia Mundial do Teatro

Recordar Mário Viegas neste dia



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Dia Mundial do Teatro

O olhar de Malkovich durante os ensaios de Ulisses no belíssimo filme de Oliveira "Vou para casa"


O enorme actor JOHN MALKOVICH, diz assim no Dia Mundial do Teatro:


Fico honrado por o ITI – Instituto Internacional do Teatro me ter pedido para fazer este discurso comemorativo do 50º aniversário do Dia Mundial do Teatro.

Meus companheiros de teatro, meus pares e meus camaradas,

possa o vosso trabalho ser apaixonante e original. Possa ele ser profundo, comovente, contemplativo, e único. Possa ele ajudar-nos a reflectir sobre a questão do que significa ser humano, e possa esta reflexão ser guiada pelo coração, pela sinceridade, candura, e charme. Possam todos ultrapassar a adversidade, a censura, a pobreza e o niilismo, que muitos de entre vós serão obrigados a enfrentar. Possam ser abençoados com o talento e o rigor para nos ensinar sobre o bater do coração humano, em toda a sua complexidade, e com a humildade e curiosidade para fazer disso o trabalho da vossa vida. E possa o melhor de vós próprios – porque só poderá ser o melhor de vós próprios, e mesmo assim, apenas em raros e breves momentos – conseguir definir a mais fundamental questão, “como vivemos nós?”

Desejo sinceramente que o consigam.

John Malkovich


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sábado, 24 de março de 2012

ENSEMBLE INTERCONTEMPORAIN

Esta noite a Casa da Música presenteou-nos com uma boa programação; as verdades são para se dizerem. Ouviu-se o ENSEMBLE INTERCONTEMPORAIN sem Boulez, mas com George Benjamin que o dirigiu maravilhosamente e não me parece que tenhamos sido prejudicados por isso.
O Ensemble Intercontemporain dedica-se à música escrita desde o sec. XX até aos nossos dias, e apresentou-se com muito rigor e competência. Fundado por Pièrre Boulez, teve e continua a ter apoio do Ministério da Cultura e da Comunicação. Agrupamento em residência na Cité de laMusique, conta também com o apoio da cidade de Paris.
A programação desta noite, teve obras de Franco Donatoni Tema (1982)
Johannes Boris Borowski Second [2008]
Pierre Boulez Eclat/Multiples [1964‐1970]
Arnold Schonberg Suite op.29
Foi um belíssimo concerto, e há ainda a referir o comportamento da plateia; sem ruídos, reconhecida nos aplausos, em suma, uma plateia que sabia ao que ia.





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sexta-feira, 23 de março de 2012

Dia do aniversário de Juan Gris

Juan Gris (auto-retrato)

Madrid 23/Março/1887--Boulogne-sur-Seine 11/Maio/1927


Iniciou a sua formação na Real Academia de Belas-Artes de S. Fernando. No início da sua actividade artística, dedicou-se à ilustração de revistas modernistas da época.
Em 1906, mudou-se para Paris, contacta com o movimento cubista, relacionando-se com Guillaume Apollinaire, Max Jacob, Picasso, e por intermédio deste, Braque. No entanto, a forma como desenvolve a geometrização das formas e incorpora elementos tipográficos, bem como as cores que usa, verdes, violetas e azuis, distanciam-no quer de Picasso, quer de Braque.
Mostra as suas primeiras obras cubistas em 1911. Pinta retratos, naturezas mortas, utilizando frequentemente na sua composição instrumentos musicais.
A partir de 1912, introduz a técnica da colagem. Torna-se conhecido em todo o mundo. Realiza nesta altura a sua primeira exposição individual na Galeria Sagot.
Continuou a expor nas melhores galerias de arte até 1927, ano em que faleceu, com 40 anos de idade.
(clic nas imagens para ver melhor)








Picasso






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terça-feira, 20 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia



Sophia de Melo Breyner



Com Fúria e Raiva


Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

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Primavera

A Primavera de Botticelli



Botticelli, de seu nome Alessandro di Mariano Filipepi, natural de Florença, deve o seu nome artístico ao seu irmão que por ser pequenino e gordinho o apelidaram de Botticelli ( botijinha). O irmão morreu e então Alessandro herdou-lhe o nome. Viveu nos anos de 1445 a 1510.
Boticeli, oriundo de uma família burguesa, viveu no entanto na Florença dos Médicis e sob os seus patrocínios. A Primavera foi encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco do Médicis para ser colocada na villa mediceia de Castello.
Actualmente encontra-se na galeria dos Uffizi em Florença.
Esta obra é uma pintura a têmpera sobre madeira, mede 203 cm × 314 cm e é consensual admitir-se que representa um grupo de figuras mitológicas num jardim presidido por Vénus, cheio de flores e variadíssimas plantas (alegoria da Primavera).
Outras opiniões têm-na interpretado como uma ilustração do amor neoplatónico, muito do agrado dos Médicis. Mas o tema, em geral, inspira-se na descrição mitológica do poeta Ovídio sobre a chegada da primavera.
As personagens nele representadas, são: à direita, Zéfiro, vento oeste, avança violentamente atrás de uma ninfa que entra no jardim. É uma alusão ao rapto de Chloris. Vêem-se flores a sair-lhe da boca...
Arrependido fez dela a Deusa Flora e deu-lhe o domínio sobre a Primavera.

«Enquanto ela falava, os seus lábios exalavam rosas primaverís: Eu fui Chloris e agora chamam-me Flora.» (Ovídio)

A Primavera, Deusa Flora, representada na figura feminina com vestido às flores, grávida, vai entrando no jardim lançando flores por onde passa, perfumando tudo, enchendo tudo de maravilha. Símbolo da fertilidade.

Ao fundo, observando e controlando tudo, está Vénus.

No ar, voando, cego e armado com o seu arco, Cupido seu filho, de ollhos vendados, aponta a seta do amor em direcção às três figuras que representam as Graças (Aglaia, Tália e Eufrónsina), símbolos da sensualidade, da beleza e da castidade.
À esquerda, Mercúrio protege o jardim, atento e de espada à cintura, capaz de afastar os mais temíveis adversários.

Na tradição clássica, Vénus e Cupido, devem fazer ressurgir os campos fustigados pelo inverno iniciando a primavera ao semear flores, beleza e atracção entre todos os seres.
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domingo, 18 de março de 2012

Homenagem

Graça Arantes


A 16 de Março, seria o dia dos anos da Graça.
Uma recordação em sua homenagem, e Débussy era do seu agrado.

quinta-feira, 8 de março de 2012

POESIA

reflexos em Sta. Maria do Bouro


Pudesse Eu



Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!


Sophia de Mello Breyner Andresen

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terça-feira, 6 de março de 2012

Parabéns, Garcia Marques


Gabriel Garcia Marques, um dos meus escritores favoritos, faz 85 anos.
Um contador admirável de histórias, verídicas, prende o leitor da primeira à ultima frase; pela simplicidade da escrita, pelo realismo da descrição.
" Crónica de una muerte anunciada"é o meu preferido.
Transcrevo o fim dessa história, que conta os últimos momentos de vida de Santiago Nasar.

(...) Caminó más de cien metros para darle la vuelta completa a la casa y entrar por la puerta de la cocina. Tuvo todavía bastante lucidez para no ir por la calle, que era el trayecto más largo, sino que entró por la casa contigua. Poncho Lanao, su esposa y sus cinco hijos no se habían enterado de lo que acababa de ocurrir a 20 pasos de su puerta. «Oímos la gritería -me dijo la esposa-, pero pensamos que era la fiesta del obispo.» Empezaban a desayunar cuando vieron entrar a Santiago Nasar empapado de sangre llevando en las manos el racimo de sus entrañas. Poncho Lanao me dijo: «Lo que nunca pude olvidar fue el terrible olor a mierda». Pero Argénida Lanao, la hija mayor, contó que Santiago Nasar caminaba con la prestancia de siempre, midiendo bien los pasos, y que su rostro de sarraceno con los rizos alborotados estaba más bello que nunca. Al pasar frente a la mesa les sonrió, y siguió a través de los dormitorios hasta la salida posterior de la casa. «Nos quedamos paralizados de susto», me dijo Argénida Lanao. Mi tía Wenefrida Márquez estaba desescamando un sábalo en el patio de su casa al otro lado del río, y lo vio descender las escalinatas del muelle antiguo buscando con paso firme el rumbo de su casa.
-¡Santiago, hijo --le gritó-, qué te pasa!
Santiago Nasar la reconoció.
-Que me mataron, niña Wene -dijo.
Tropezó en el último escalón, pero se incorporó de inmediato. «Hasta tuvo el cuidado de sacudir con la mano la tierra que le quedó en las tripas», me dijo mi tía Wene.
Después entró en su casa por la puerta trasera, que estaba abierta desde las seis, y se derrumbó de bruces en la cocina.

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domingo, 4 de março de 2012

Camille Claudel

Camille Claudel "1864-1943"

Camille Claudel com 20 anos
por César D.R.


De nacionalidade francesa, da região de Champanhe, desde muito cedo sonhou ser escultora. Em 1881 conseguiu de seu pai, amigo do escultor Boucher, a mudança da família para Paris onde se matriculou na Academia Colarossi. As mulheres não podiam frequentar a Escola de Belas Artes. Iniciou os estudos com o próprio Alfred Boucher. São desta época as duas primeiras obras conhecidas:

Mais tarde, porque Boucher se ausentou para Itália, fica Rodin a substituí-lo; e a vida de Camille altera-se profundamente. Chega a ser seu modelo, discípula e amante.
De temperamento forte e determinada, lutou contra todos os preconceitos da sociedade dos fins do sec. XIX que nunca viria a aceita-la como escultora, e também contra sua mãe que nunca a apoiou. Com o irmão, o poeta Paul Claudel, manteve nos primeiros tempos uma relação de amizade mas, mais tarde, este viria a despreza-la.
Era uma mulher muito bonita, de olhos azul escuro  e de grande talento. Para Rodin, um escultor a necessitar de notoriedade e grande sedutor, isso não lhe foi indiferente. Envolveu-se com Camille numa enorme paixão, sem contudo abandonar Rose Beuret, sua companheira e modelo desde os primeiros tempos, com quem tinha um filho e com quem se viria a casar. Rodin teve consciência, logo de início. da genialidade de Camille  e contratou-a para colaborar na execução das "Portes de l'Enfer" e no monumento Bourgeois de Calais. Foi encarregada de fazer mãos e pés o que demonstrava a confiança de Rodin no seu trabalho.

Portes de l'Enfer




Bourgeois de Calais


Em 1888 passou a viver com Rodin numa casa a que chamariam o "retiro pagão". Frequentavam lugares públicos e a sua vida tornou-se num escândalo. Conviveu com a sociedade intelectual e artística da época, entre eles Claude Debussy. Rodin vivia simultâneamente com Rose e Camille. E à promiscuidade amorosa, juntava-se a promiscuidade profissional. Era difícil saber quando a obra pertencia a um ou a outro; ou quando era que Rodin se apropriava do trabalho de Camille e o assinava como seu. Camille escreveu em cartas que Rodin temia o seu talento e inteligência.

Camille e Rodin no seu estúdio

Em 1892 Camille teve um abortamento que a deixou profundamente abalada e impotente para convencer Rodin a abandonar Rose  e casar-se com ela.
Decidiu afastar-se.
Faz "Sakuntala", escultura inspirada no conto do poeta hindu Kalidassa.
Uma mulher grávida que procura o marido, que a não reconhecerá, por ela ter perdido a insígnia que a nomeava sua rainha e assim a toma como impostora. Sakuntala retira-se em desespero e uma chama em forma de mulher levanta-a e ambas desaparecem.
Sakuntala
Nesta época duas outras obras importantes são premiadas; A Valsa e Clotho.
Clotho é uma das três Moiras que determinam o destino dos homens, e tem o poder de fiar a vida e cortá-la quando quiser.


Clotho

La Valse




É a sua fase mais produtiva. Estuda a arte japonesa e são desta época as suas melhores obras: as "Bisbilhoteiras" e a "Onda"

A Onda tem tido várias interpretações; mas a que me parece mais ajustada à personalidade de Camille é a referência à luta gigantesca da mulher contra os tabús, preconceitos e descriminações que ao longo dos tempos tem travado, e que, como no caso de Camille, vive a ameaça e a realidade de ser dominada e destruída.

Mas em todos os momentos existe sempre o dedo de Rodin; será sempre por seu intermédio que obtém encomendas, e será também através dele o reconhecimento das mesmas. Isso não agrada a Camille.




La vague




Dánae e A Verdade a sair do poço são outras obras da sua autoria.


Dánae



Em 1900 rompeu definitivamente com Rodin
depois de "A Idade Madura", ser recusada pela Exposição Universal de 1900. Considerada a sua obra mais autobiográfica, Rodin não gostou de se ver tão explicitamente exposto nela e conseguiu a sua rejeição. Camille, com 36 anos, convenceu-se que havia um complô de Rodin contra ela.
Fechou-se no seu atelier, onde se isolou, e repetia incessantemente, “o canalha do Rodin;” frase ouvida pelos vizinhos. O meio artístico, dizia, passou a pertencer ao "bando de Rodin" que a todos seduz e convence contra ela. As suas ideias e os seus desenhos eram roubados, executados, tinham sucesso, mas não se falava no seu nome. E dizia:
“Serei perseguida por toda a minha vida pela vingança deste monstro, o perseguidor Auguste
Rodin"


A verdade a sair do poço

 Vivia miseravelmente  com uma pequena pensão enviada pelo Pai, e bebia em excesso, rodeada de gatos. Faltava -lhe dinheiro para pagar os materiais, para pagar aos modelos, para se vestir  e o seu isolamento foi sendo cada vez maior. Diz-se também que, havia suspeitas, de Rodin continuar a intervir por ela, assegurando-lhe novas encomendas; mas Camille


recusa. Prefere viver sozinha, no silêncio e na escuridão.
   L'Age Mur--Hoje, no Museu d'Orsay

A sua última escultura é de 1906.
Depois desse ano, destrói tudo o que esculpe. Os moldes de gesso lança-os ao Sena ou enterra-os, e proíbe que vejam o que faz.
No dia 10 de março de 1913, uma semana após a morte do pai, a pedido da família, que arranjou uma certidão médica com o diagnóstico de delírio paranóico, Camille foi levada à força para um hospício. Permaneceu no hospital, abandonada pela família, recusando voltar a esculpir, até ao dia da sua morte 30 anos depois.

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Baltasar Garzón


Baltasar Garzón
El Supremo reprocha su “errónea” actuación pero le
absuelve por seis votos a uno. (El País)

Garzón exige al Supremo que explique por qué no anuló el juicio del franquismo. (El País)

De sentença em sentença, ao usar o juiz Garzón, fazendo crer que este é o causador de ilegalidades e que de tudo se vale, com direito ou sem ele, para a denúncia e julgamento dos crimes do franquismo,a justiça espanhola vai entretendo. Garzón é de cepa dura; não verga e é difícil quebrá-lo.