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quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Atropelamento


 Igreja do Carmo - Porto





                             Há já 3 anos vencidos, fui atropelada numa passadeira nesta cidade do Porto, em sinal Verde para peões e Amarelo intermitente para carros. O condutor disse que não me viu. Bem vistas as coisas o condutor era inábil! Assumiu, no entanto, a responsabilidade do atropelamento perante a Polícia.
A Companhia Seguradora LOGO é que não.
No início, aconselhou a fazer as despesas necessárias que depois pagaria.
Na altura de pagar, já não foi da mesma opinião.
O meu advogado colocou a questão em Tribunal e este deliberou em meu favor.
A LOGO interpôs recurso para o Tribunal da Relação e a resposta veio ontem.
No relatório contraria-se a decisão da 1ª Instância, reduzindo vergonhosamente a indemnização por danos não patrimoniais oportunamente atribuída. Mas os fundamentos não se apoiam em jurisdição existente; mas, e transcrevo, (...)Na ausência de uma definição legal, a doutrina portuguesa acentua que o julgamento pela equidade "é sempre produto de uma decisão humana que visará ordenar determinado problema perante um conjunto articulado de proposições objectivas; distingue-se do puro julgamento jurídico por apresentar menos preocupações sistemáticas e maiores empirismo e intuição"(...)
E é dentro desse empirismo que os juízes da Relação do Porto intuíram coisas assim, e transcrevo: (...)verifica-se que estamos perante uma cidadã já com 78 anos à data do acidente, o que lhe confere uma esperança de vida não muito longa.(...)
É óbvio que não contesto a veracidade da afirmação mas, o que me repugna é a forma da sua utilização.
E então poder-se-á perguntar: à medida que o tempo passa
já não é preciso indemnizar tanto?
O relatório é extenso e todo ele deixa transpirar falta de jurisprudência onde se apoiem as decisões.
Mas uma coisa se conclui facilmente. Se já lá vão 3 anos neste impasse, com argumentos destes, qualquer dia a indemnização fica em zero!
Mas como o caminho se faz caminhando, caminharei até ao Supremo.
Já vou a caminho...


.
  
Nuremberga



AVESSO

O meu oposto contrário
está no avesso do sol
e na invenção da sombra
*
No sobressalto
da folha
onde o poema desfolha
*
Me inventa, sabe
e lembra
me questiona e sustenta
*
Me incendeia e relembra
me respira
e me desvenda
*
(inédito)»
Maria Teresa Horta



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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Poesia

                                                                 Porto


Os Amigos 


Voltar ali onde 
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta a impetuosa
Juventude antiga -
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Musa'


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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Poesia


A buganvília que floresceu em Dezembro



Como uma flor vermelha

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia. 

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha. 



Sophia de Mello Breyner Andresen
 
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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Porto em fotografia

A magia de um fotógrafo

O mar em Montevideu

foto de Mariano Pires


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Poesia




Sta. Maria do Bouro


                                      PÁTRIA
                                           
 

                                   Por um país de pedra e vento duro
                                   Por um país de luz perfeita e clara
                                   Pelo negro da terra e pelo branco do muro
 
                                   Pelos rostos de silêncio e de paciência
                                   Que a miséria longamente desenhou
                                   Rente aos ossos com toda a exactidão
                                   Dum longo relatório irrecusável
 
                                   E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
 
                                   E pela limpidez das tão amadas
                                   Palavras sempre ditas com paixão
                                   Pela cor e pelo peso das palavras
                                   Pelo concreto silêncio limpo das palavras
                                   Donde se erguem as coisas nomeadas
                                   Pela nudez das palavras deslumbradas
 
                                   - Pedra rio vento casa
                                   Pranto dia canto alento
                                   Espaço raiz e água
                                   Ó minha pátria e meu centro
 
                                   Me dói a lua me soluça o mar
                                   E o exílio se inscreve em pleno tempo


                                             Sofia de Mello Breyner Andresen

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Poesia



 As Casas













As casas habitadas são belas 
se parecem ainda uma casa vazia 
sem a pretensão de ocupá-las 
tornam-se ténues disposições 
os sinais da nossa presença: 
um livro 
a roupa que chegou da lavandaria 
por arrumar em cima da cama 
o modo como toda a tarde a luz foi 
entregue ao seu silêncio 

Em certos dias, nem sabemos porquê 
sentimo-nos estranhamente perto 
daquelas coisas que buscamos muito 
e continuam, no entanto, perdidas 
dentro da nossa casa 


José Tolentino Mendonça
 



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

 
  parque da cidade


Mãe-Terra

É a dança graciosa das aves
em lagos iluminados,
Os fios de água apressados
a correrem das nascentes
e as flores de pétalas abertas
a dançarem com o vento.

É a beleza da mãe-terra

feita de puro encantamento.

Vitor Carvalhais
 
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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Textos ao Acaso


 Forum-Madrid


    Mude

Edson Marques


Mas comece devagar, porque a direcção
é mais importante que a velocidade.
Mude de caminho, ande por outras ruas,
observando os lugares por onde você passa.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Descubra novos horizontes.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
Busque novos amigos, tente novos amores.
Faça novas relações.
Experimente a gostosura da surpresa.
Troque esse monte de medo por um pouco de vida.
Ame muito, cada vez mais, e de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, de atitude.
Mude.
Dê uma chance ao inesperado.
Abrace a gostosura da Surpresa.
Sonhe só o sonho certo e realize-o todo dia.
Lembre-se de que a Vida é uma só,
e decida-se por arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação, um trabalho mais prazeroso,
mais digno, mais humano.
Abra seu coração de dentro para fora.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Exagere na criatividade.
E aproveite para fazer uma viagem longa,
se possível sem destino.
Experimente coisas diferentes, troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você conhecerá coisas melhores e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, a energia, o entusiasmo.
Só o que está morto não muda !


. Edson Marques, formado em Filosofia pela USP, é um escritor e poeta brasileiro. Participou da fundação da Ordem Nacional dos Escritores.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

textos ao acaso

 Outros lugares-Peterhof com o Báltico em fundo


MUDANÇA

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção os lugares por
onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus
sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire
uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no
parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir
em outras camas. Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade.
Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o
novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos
amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome
outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro
creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros
lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro,
compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses
horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros
cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente
em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um
trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais
humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa,
se possível sem destino. Experimente coisas novas.
Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra
vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas
piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que
importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o
dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não
vale a pena!

 ***Texto de Clarice Lispector

Judia, Clarice nasceu na Ucrânea durante a viagem de emigração da família em direcção à América em 1920, e morreu no Rio de Janeiro em 1977.

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poesia





  Dizia uma vez Aquilino...
 
Dizia uma vez Aquilino que em Portugal
os filósofos se exilavam ainda em seu país
(v.g. Spinoza). O curioso porém
é que também ninguém foi santo lá:
os nascidos em Portugal foram todos sê-lo noutra parte
(St. António, S. João de Deus, etc.)
e outros santos portugueses, se o foram,
terá sido, porque, estrangeiros que eram e em Portugal
vivendo, não tiveram outro remédio
(v.g. Rainha Santa) senão ser santos,
à falta de melhor. Oh país danado.
Porque os heróis também nunca tiveram melhor sorte
(Albuquerque e outros que o digam) a menos que
tivessem participado de revoluções feitas
"em vez de" (v.g. o Condestável que fez 
fortuna e a casa de Bragança e acabou só Santo quase).

Jorge de Sena

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Poesia


 Jardim do Passeio Alegre


AQUI NÃO SOMOS


... Aqui não somos
 mais do que o raso espaço que nos cerca, apetecível vôo para os olhos
 e limitado gesto para as mãos.
 Aqui não somos
 menos que esforço e pausa de cansaço, pesado corpo de silêncio grave
 e uma só hipótese de esperança.
 Aqui não somos
 senão soluços adiados, lágrimas
 correndo impuras, secas e nos lábios
 um último sorriso anunciado.

 José Augusto Seabra

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sábado, 9 de junho de 2012

Poesia

Jardins da Gulbenkian
Vive


Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas
como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


Alberto Caeiro

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia

rua de Guimarães





Há sol na rua

Há sol na rua
Gosto do sol mas não gosto da rua
Então fico em casa
À espera que o mundo venha
Com as suas torres douradas
E as suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas que são alegres
Ou são pagas para cantar
E à noite chega um momento
Em que a rua se transforma noutra coisa
E desaparece sob a plumagem
Da noite cheia de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então saio para a rua
Ela estende-se até à madrugada
Um fumo espraia-se muito perto
E eu ando no meio da água seca .
Da água áspera da noite fresca
O sol voltará em breve


Boris Vian
canções e poemas

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

VILA DO CONDE






fotos de tele-móvel

ROMANCE DE VILA DO CONDE



Vila do Conde, espraiada
Entre pinhais, rio e mar!
- Lembra-me Vila do Conde,
Já me ponho a suspirar.

Vento Norte, ai vento norte,
Ventinho da beira mar,
Vento de Vila do Conde,
Que é a minha terra natal!
Nenhum remédio me vale
se me não vens cá buscar,
Vento norte, ai vento norte,
Que em sonhos sinto assoprar...

Bom cheirinho dos pinheiros,
A que não sei outro igual,
Do pinheiral de Mindelo,
Que é um belo pinheiral
Que em Azurara começa

E ao Porto vai acabar...
Se me não vens cá buscar,
Nenhum remédio me vale
Nenhum remédio me vale,
Se te não posso cheirar...

Vila do Conde espraiada
Entre pinhais, rio e mar!
- Lembra-me Vila do Conde,
Mais nada posso lembrar.
Bom cheirinho dos pinheiros...
Sei de um que quase te vale:
É o cheiro da maresia,
- Sargaços, névoas e sal -
A que cheira toda a vila
Nas manhãs de temporal.
Ai mar de vila do Conde,
Ai mar dos mares, meu mar!
Se me não vens cá buscar,

Nenhum remédio me vale,
Nenhum remédio me vale,
Nem chega a remediar

Abria de manhãzinha,
As vidraças par em par.
Entrava o mar no meu quarto
Só pelo cheiro do ar.
Ia à praia e via a espuma
Rolando pelo areal,
Espuma verde e amarela
Da noite de temporal!
Empurrada pelo vento,
Que em sonhos ouço ventar,
Ia à praia e via a espuma
Pelo areal a rolar...

Vila do Conde espraiada
entre pinhais rio e mar...


José Régio

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domingo, 16 de outubro de 2011

POESIA

Noite em Bruxelas

Espera

terça-feira, 4 de outubro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Poesia

La Priére, 1930 Man Ray

O mal verdadeiro-
o único mal,
são as convenções
e as ficções sociais,
que se sobrepõem
às realidades naturais.


Fernando Pessoa

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domingo, 18 de setembro de 2011

Música sempre

Órgão da Igreja de Sta. Cruz em Coimbra


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

textos ao acaso

Peterhof

Uma cerveja no inferno


-Outrora, se estou bem lembrado, a minha vida era um festim onde todos os corações se abriam, em que todos os vinhos cintilavam.
-Uma noite sentei a Beleza nos meus joelhos. - E vi que era amarga. - E injuriei-a.
-Armei-me contra a justiça.
-Fugi. Ó feiticeiras, ó miséria, ó ódio, fostes vós a guarda do meu tesoiro!
-Consegui destruir em mim toda a esperança. Contra toda a alegria lancei o bote cego da besta feroz. Estranguladas!
-E chamei os carrascos para morder, na agonia, a coronha dos fuzis. Conjurei as pragas para sufocar na areia, mergulhar em sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estiracei-me na lama. Sequei ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
-E a primavera trouxe-me a terrível risada do idiota.
-Ora, ultimamente, prestes a lançar à cara do planeta o derradeiro estalo, lembrei-me de ir buscar a chave do festim (talvez me regrasse o antigo apetite?).
-Caridade - é a chave. Uma inspiração destas prova que sonhei!
-"Permanecerás hiena, etc...", ruge o demónio que me coroava de tão amáveis papoilas.
"Morre feliz ao lado dos teus apetites, com todo o teu egoismo, com todos os melhores pecados capitais."
-Ah! tomei tanto disso... - Mas, meu caro Satã, não carregueis tanto o sobrolho! e enquanto esperais ainda uma que outra miséria vinda atrasada por motivo de obras, vós, que apreciais no escritor a mais selecta ausência de faculdades descritivas ou pedagógicas, aqui tendes para já, especialmente arrancadas, estas odiosas folhas do meu canhenho diário de danado

Jean-Arthur Rimbaud