domingo, 4 de março de 2012

Camille Claudel

Camille Claudel "1864-1943"

Camille Claudel com 20 anos
por César D.R.


De nacionalidade francesa, da região de Champanhe, desde muito cedo sonhou ser escultora. Em 1881 conseguiu de seu pai, amigo do escultor Boucher, a mudança da família para Paris onde se matriculou na Academia Colarossi. As mulheres não podiam frequentar a Escola de Belas Artes. Iniciou os estudos com o próprio Alfred Boucher. São desta época as duas primeiras obras conhecidas:

Mais tarde, porque Boucher se ausentou para Itália, fica Rodin a substituí-lo; e a vida de Camille altera-se profundamente. Chega a ser seu modelo, discípula e amante.
De temperamento forte e determinada, lutou contra todos os preconceitos da sociedade dos fins do sec. XIX que nunca viria a aceita-la como escultora, e também contra sua mãe que nunca a apoiou. Com o irmão, o poeta Paul Claudel, manteve nos primeiros tempos uma relação de amizade mas, mais tarde, este viria a despreza-la.
Era uma mulher muito bonita, de olhos azul escuro  e de grande talento. Para Rodin, um escultor a necessitar de notoriedade e grande sedutor, isso não lhe foi indiferente. Envolveu-se com Camille numa enorme paixão, sem contudo abandonar Rose Beuret, sua companheira e modelo desde os primeiros tempos, com quem tinha um filho e com quem se viria a casar. Rodin teve consciência, logo de início. da genialidade de Camille  e contratou-a para colaborar na execução das "Portes de l'Enfer" e no monumento Bourgeois de Calais. Foi encarregada de fazer mãos e pés o que demonstrava a confiança de Rodin no seu trabalho.

Portes de l'Enfer




Bourgeois de Calais


Em 1888 passou a viver com Rodin numa casa a que chamariam o "retiro pagão". Frequentavam lugares públicos e a sua vida tornou-se num escândalo. Conviveu com a sociedade intelectual e artística da época, entre eles Claude Debussy. Rodin vivia simultâneamente com Rose e Camille. E à promiscuidade amorosa, juntava-se a promiscuidade profissional. Era difícil saber quando a obra pertencia a um ou a outro; ou quando era que Rodin se apropriava do trabalho de Camille e o assinava como seu. Camille escreveu em cartas que Rodin temia o seu talento e inteligência.

Camille e Rodin no seu estúdio

Em 1892 Camille teve um abortamento que a deixou profundamente abalada e impotente para convencer Rodin a abandonar Rose  e casar-se com ela.
Decidiu afastar-se.
Faz "Sakuntala", escultura inspirada no conto do poeta hindu Kalidassa.
Uma mulher grávida que procura o marido, que a não reconhecerá, por ela ter perdido a insígnia que a nomeava sua rainha e assim a toma como impostora. Sakuntala retira-se em desespero e uma chama em forma de mulher levanta-a e ambas desaparecem.
Sakuntala
Nesta época duas outras obras importantes são premiadas; A Valsa e Clotho.
Clotho é uma das três Moiras que determinam o destino dos homens, e tem o poder de fiar a vida e cortá-la quando quiser.


Clotho

La Valse




É a sua fase mais produtiva. Estuda a arte japonesa e são desta época as suas melhores obras: as "Bisbilhoteiras" e a "Onda"

A Onda tem tido várias interpretações; mas a que me parece mais ajustada à personalidade de Camille é a referência à luta gigantesca da mulher contra os tabús, preconceitos e descriminações que ao longo dos tempos tem travado, e que, como no caso de Camille, vive a ameaça e a realidade de ser dominada e destruída.

Mas em todos os momentos existe sempre o dedo de Rodin; será sempre por seu intermédio que obtém encomendas, e será também através dele o reconhecimento das mesmas. Isso não agrada a Camille.




La vague




Dánae e A Verdade a sair do poço são outras obras da sua autoria.


Dánae



Em 1900 rompeu definitivamente com Rodin
depois de "A Idade Madura", ser recusada pela Exposição Universal de 1900. Considerada a sua obra mais autobiográfica, Rodin não gostou de se ver tão explicitamente exposto nela e conseguiu a sua rejeição. Camille, com 36 anos, convenceu-se que havia um complô de Rodin contra ela.
Fechou-se no seu atelier, onde se isolou, e repetia incessantemente, “o canalha do Rodin;” frase ouvida pelos vizinhos. O meio artístico, dizia, passou a pertencer ao "bando de Rodin" que a todos seduz e convence contra ela. As suas ideias e os seus desenhos eram roubados, executados, tinham sucesso, mas não se falava no seu nome. E dizia:
“Serei perseguida por toda a minha vida pela vingança deste monstro, o perseguidor Auguste
Rodin"


A verdade a sair do poço

 Vivia miseravelmente  com uma pequena pensão enviada pelo Pai, e bebia em excesso, rodeada de gatos. Faltava -lhe dinheiro para pagar os materiais, para pagar aos modelos, para se vestir  e o seu isolamento foi sendo cada vez maior. Diz-se também que, havia suspeitas, de Rodin continuar a intervir por ela, assegurando-lhe novas encomendas; mas Camille


recusa. Prefere viver sozinha, no silêncio e na escuridão.
   L'Age Mur--Hoje, no Museu d'Orsay

A sua última escultura é de 1906.
Depois desse ano, destrói tudo o que esculpe. Os moldes de gesso lança-os ao Sena ou enterra-os, e proíbe que vejam o que faz.
No dia 10 de março de 1913, uma semana após a morte do pai, a pedido da família, que arranjou uma certidão médica com o diagnóstico de delírio paranóico, Camille foi levada à força para um hospício. Permaneceu no hospital, abandonada pela família, recusando voltar a esculpir, até ao dia da sua morte 30 anos depois.

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