no Natal de 2013
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Poesia
no Natal de 2013
O Menino Jesus de Fernando Pessoa
Num meio-dia de fim de primavera
Sagrada Família- Miguel Ângelo
O Menino Jesus de Fernando Pessoa
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas...
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –
«Se é que ele as criou, do que duvido» –
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
em "Guardador de Rebanhos"
Alberto Caeiro
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sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Para memória futura
António Lobo Antunes
Um Dó Li TáExiste um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? |
||
Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas
crónicas e a pergunta surpreende-me sempre. Qual governo? É que não
existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais
vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento. Claro que as
crianças lhes acrescentaram um pin na lapela, porque é giro
- Eh pá embora usar um pin? que representa a bandeira nacional como podia representar o Rato Mickey - Embora pôr o Rato Mickey? mas um deles lembrou-se do Senhor Scolari que convenceu os portugueses a encherem tudo de bandeiras, sugeriu - Mete-se antes a bandeira como o Obama e, por estarem a brincar às pessoas crescidas e as play-stations virem da América, resolveram-se pela bandeirinha e aí andam, todos contentes, que engraçado, a mandarem na gente - Agora mandamos em vocês durante quatro anos, está bem? depois de prometerem que, no fim dos quatro anos, comem a sopa toda e estudam um bocadinho em lugar de verem os Simpsons. No meio dos meninos há um tio idoso, manifestamente diminuído, que as famílias dos meninos pediram que levassem com eles, a fim de não passar o tempo a maçar as pessoas nos bancos, de modo que o tio idoso, também de pin - Ponha que é curtido, tio para ali anda a fazer patetices e a dizer asneiras acerca de Angola, que os meninos acham divertidas e os adultos, os tontos, idiotas. Que mal faz? Isto é tudo a fazer de conta. Esta criançada é curiosa. Ensinaram-me que as pessoas não devem ser criticadas pelos nomes ou pelo aspecto físico mas os meninos exageram, e eu não sei se os nomes que usam são verdadeiros: existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal. No lugar deles arranjava outros pseudónimos: Touro Sentado, Nuvem Vermelha, Cavalo Louco. Também é giro, também é americano, pá, e, sinceramente, tanto álcool no jardim escola preocupa-me. A ASAE devia andar de olho na venda de espirituosas a menores. Outra coisa que me preocupa é a ignorância da língua portuguesa nos colégios. Desconhecem o significado de palavras como irrevogável. Irrevogável até compreendo, uma coisa torcida, e a gente conhece o amor dos pequerruchos pelos termos difíceis, coitadinhos, não têm culpa, mas quando, na Assembleia, um deles declarou - Não pretendo esconder nem ocultar apesar da palermice me enternecer alarmou-me um nadita, mau grado compreender que o termo sinónimo seja complicado para alminhas tão tenras. Espíritos tortuosos ou manifestamente mal formados insinuam, por pura maldade, que os garotos mentem muito, o que é injusto e cruel. Eles, por inevitável ingenuidade, não mentem nem faltam às promessas que fazem: temos de levar em conta a idade e o facto da estrutura mental não estar ainda formada, e entender que mudar constantemente de discurso, desdizer-se, aldrabar, não possui, na infância, um significado grave. A irrealidade faz parte dos cérebros em evolução e, com o tempo, hão-de tornar-se pessoas responsáveis: não podemos exigir-lhes que o sejam já, é necessário ser tolerante com os pequerruchos, afagá-los, perdoar-lhes. Merecem carinho, não crítica, uma festa na cabecinha do garoto que faz de primeiro-ministro, outra na menina que eles escolheram para as Finanças e por aí fora. Não é com dureza desnecessária e espírito exageradamente rígido que os educamos. No fundo limitam-se a obedecer a uns senhores estrangeiros, no fundo, tão amorosos, que mal fazem eles para além de empobrecerem a gente, tirarem-nos o emprego, estrangularem-nos, desrespeitarem-nos, trazerem-nos fominha, destruírem-nos? São miúdos queridos, cheios de boa vontade, qual o motivo de os não deixarmos estragar tudo à martelada? Somos demasiado severos com a infância, enervam-nos os impetuosos que correm no meio das mesas dos restaurantes, aos gritos, achamos que incomodam os clientes, a nossa impaciência é deslocada. Por trás deles há pessoas crescidas a orientarem-nos, a quem tentam agradar como podem à custa daqueles que não podem. Os portugueses, e é com mágoa que escrevo isto, têm sido injustos com a infância. Deixem-nos estragar, deixem-nos multiplicar argoladas, deixem-nos não falar verdade: faz parte da aprendizagem das mulheres e homens de amanhã. Sigam o exemplo do Senhor Presidente da República que paternalmente os protege, não do senhor Ex-Presidente da República, Mário Soares, que de forma tão violenta os ataca e, se vos sobrar algum dinheiro, carreguem-lhes os telemóveis para eles falarem uns com os outros acerca da melhor forma de nos deixarem de tanga. Qual o problema se há tanto sol neste País, mesmo que não esteja lá muito certo de o não haverem oferecido aos alemães? E, de pin no casaco que nos fanaram, isto é, de pin cravado na pele (ao princípio dói um bocadinho, a seguir passa) encorajemos estes minúsculos heróis com um beijinho, cheio de ternura, nas testazitas inocentes. |
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Como a história se repete
O fuzilamento de Goya
(foto publicada por São José Lapa)
Um século separa este dois acontecimentos. Mas só as distingue a forma como são reproduzidas. Ambas carregadas de um dramatismo cruel, e onde os responsáveis estão cobardemente ausentes.Todos são vítimas; os que matam e os que morrem.
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sábado, 2 de novembro de 2013
Homenagem
Em homenagem a meu Pai, no seu aniversário, relembro dois trechos de um conto por ele escrito.
A minha Escola
.=.
A escola fica situada na encosta das Pedregulhas à margem do caminho da igreja.
Na sua frente, depois da casa do Ti-Zé da Delfina que lhe fica a seguir para baixo, estende-se a várzea viçosa de milharais e vinhedos; e mais alem, para nascente, a graciosa encosta do monte de Casais com o denso casario alcandorado entre tufos de verdura e flores, parecendo que todas as janelas sorriem para ela a espreitar por entre a folhagem.
Também o sol ao despontar, enfia por entre frondoso arvoredo de freixos e salgueiros e vai acariciá-la e afagá-la a esparrinhar raios de luz e calor, para a iluminar e aquecer como ela ilumina e aquece os corações das gerações infantis que por ali passam.
Sempre “risonha e franca”, ela lá está, donairosa e acolhedora, a dardejar luz na inteligência das crianças que dela se acercam.
.=.
.=.
Entrei ali pela primeira vez há muitos anos. Nem sei quantos. Acompanhado pelos meus irmãos mais velhos, Manuel e José, lá fui. Subi a escada de pedra que lhe dá acesso e entrei. Depositados os chapéus à entrada do corredor que servia de vestiário, devia ter ido como os outros, pedir a “bênção ao mestre”. Do que se passou em seguida a minha memoria nada regista. Essa faculdade privilegiada ficou a Trindade Coelho. Mas, como ele, eu também devia ter sido a “encomendinha”.
Os que entravam pela primeira vez, iam, depois dos cumprimentos regulamentares, sentar-se no banco de trás. Era por ali que se iniciava a carreira escolar. Os lugares iam sendo ocupados gradualmente depois, segundo o desenvolvimento escolar de cada um, até ao último da esquerda da última coxia de carteiras. Eram os lugares dos que sabiam mais, dos que atingiam o mais alto grau escolar. Também lá estive, nesse lugar cimeiro. Com alguns companheiros subi a ladeira íngreme do curso. Ultrapassando-os empoleirei-me na grimpa, termo daquela por onde se subia de harmonia com o aproveitamento escolar e, lá permaneci até me despacharem para outra parte. Sim, porque enquanto éramos “encomendinha”, éramos despachados conforme o destino que nos queriam dar.
Joaquim D. Cancela
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Cortar reformas
Depois de assistir aos Prós e Contras de hoje, onde se discutia os cortes que o governo pretende fazer nas reformas e pensões, fiquei com a sensação amarga que para nada valeu a discussão.
Não esclareceram quem os ouvia, nem a eles próprios.
A moderadora vestida de vermelho/roxo com penteado de longos cabelos ondulados, sugeria a antiga estrela de Hollywood, de lábios vermelhos e de pressuposta sedução.
Não vem a propósito, no meu entender, uma postura assim, quando o assunto do programa é sabido ser doloroso e de extrema gravidade para as pessoas presentes e para o país. Pedia-se mais sobriedade; na aparência, nas palavras e no sorriso que benevolamente espalhava pela conversa.
Vieira da Silva foi sem dúvida o interveniente mais avisado; fruto de uma experiência já antiga, mas também por preparação e cuidado que empresta àquilo que faz. Denunciou a incapacidade do governo e as mentiras e contradições do PM. Fê-lo de uma forma educada e firme.
A contrastar, Camilo de Mendonça, desgraçadamente indisciplinado, disse as baboseiras inqualificáveis do costume. Não se compreende como se perde tempo com a estupidez!
Corte Real e Daniel de Oliveira, sem sobressaltos.
A assistência teve a palavra que lhe permitiram.
Debates destes em assuntos tão importantes, não merecem as solas dos sapatos de quem lá vai.
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domingo, 6 de outubro de 2013
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Textos ao acaso
Outono
Por momentos, estou sentada junto ao rio de águas serenas,
onde a sombra de enormes plátanos se projecta,
e as folhas de um amarelo acastanhado
esvoaçam no ar,
esvoaçam no ar,
e caiem silenciosas sobre mim
e no espaço que me cerca.
e no espaço que me cerca.
É o Outono que chega, a simular o fim
que se aproxima!
que se aproxima!
E Chopin não deixará de me acompanhar!
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terça-feira, 1 de outubro de 2013
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
LUTO PELO POETA MEDIADOR DA LUZ
- O luto voltou a abater-se sobre Maria Teresa Horta. Esta manhã acompanhou à sepultura, no Cemitério dos Prazeres, o poeta António Ramos Rosa. É um luto profundo, que nasce das raízes da poesia de MTH. Foi, de facto, António Ramos Rosa o poeta a quem a jovem Teresa confiou os seus primeiros poemas, com pedido de parecer. Fê-lo por correio, em fins de 1959, num sobrescrito registado e endereçado de Lisboa «ao poeta António Ramos Rosa – Faro». Três dias depois, um telefonema de Ramos Rosa louvava o talento da jovem poetisa e estimulava-a a publicar a poesia em livro, propondo-se assegurar a respectiva edição. Assim nasceu, em Maio de 1960, «Espelho Inicial». Mais tarde, em 1987, no seu livro de estudos sobre a poesia portuguesa contemporânea «Incisões Oblíquas», António Ramos Rosa salienta «a subversão do desejo» na poética de Maria Teresa Horta. Segundo o autor, para MTH «é a própria existência que emerge na sua palavra e nela se apreende e se repercute. Seja directa, seja metafórica, a sua linguagem tem a ardência vital do corpo e a sua violência sensual é, em toda a sua irracionalidade, libertadora e subversiva». A relação de amizade e admiração dos dois poetas manteve-se ao longo dos anos, tendo Teresa garantido o exclusivo, remunerado (o que não era, nem é, vulgar), da publicação de poemas de António Ramos Rosa no suplemento «Literatura & Arte» de «A Capital». E, em Outubro de 2002, a pedido do poeta, Maria Teresa Horta, lança, na Livraria Bulhosa, ao Campo Grande, o seu livro «A Rosa Intacta» (ver foto abaixo). Esta tarde, no regresso do adeus ao poeta, MTH escreveu o seguinte poema:
MEDIADOR DA LUZ
Para mim sempre foste
o poeta
mediador da luz
Transfigurando a realidade
em utopia, na sua triagem
de versos e palavras
Em busca da metamorfose
da claridade,
nas fundações da linguagem
Seduzindo a ilusão
pelo voo da asa
num abismo profundo
Aquele que toma o sonho
e o conduz,
mudando cada poema
em mundo
Maria Teresa Horta, 25 Setembro 2013
Texto e foto retirados da cronologia de MTH
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Poesia
«OUTONO» - 3ª. E 4ª. PARTES
Terceira e última parte da elegia concluída por MTH no recente equinócio de Outono.
OUTONO
- 3 -
Duvido sempre do outono
sigo as suas pistas macilentas
esvaídas e translúcidas
seus incertos vestígios
Enquanto, uma por uma
as estações equívocas decepam
as flores mártires e fatídicas
as rosas tamisadas das lágrimas
E em seguida os lagos vão
surgindo, de súbito nimbados
por um escasso halo azul-violeta
beladona brotando das ruínas
Venenos a provocarem o transe
a que a realidade obriga e leva
até ao coração das penumbras ínvias
crendo ser o véu translúcido
No esvaimento da alba
ou no encobrir o rosto
esquálido das noviças
Escassas claridades lívidas
Nas submersas, adversas
e secretas cavernas mais íntimas
onde habitam as deidades invisíveis
Oh os amores malditos!
O meu amante busca-me
e julga perder-me, na brancura
da neve intocada e austera
- 4 -
Questiono sempre o outono
seguindo-lhe as águas
propiciatórias às suas interioridades
de luz refractária
Errantes, as águias pairam
no cimo, planando cismadas
voando a quebradura e o equívoco
desapiedadas
Enquanto o meu amante
descrente da paixão
me vai deixando para trás
E exausto me abandona
desprendido e inclemente
Maria Teresa Horta, 22 Setembro 2013
NOTA: A elegia «Outono», embora estruturada em quatro partes e objecto de três posts nesta Página Oficial, é um poema único.
Terceira e última parte da elegia concluída por MTH no recente equinócio de Outono.
OUTONO
- 3 -
Duvido sempre do outono
sigo as suas pistas macilentas
esvaídas e translúcidas
seus incertos vestígios
Enquanto, uma por uma
as estações equívocas decepam
as flores mártires e fatídicas
as rosas tamisadas das lágrimas
E em seguida os lagos vão
surgindo, de súbito nimbados
por um escasso halo azul-violeta
beladona brotando das ruínas
Venenos a provocarem o transe
a que a realidade obriga e leva
até ao coração das penumbras ínvias
crendo ser o véu translúcido
No esvaimento da alba
ou no encobrir o rosto
esquálido das noviças
Escassas claridades lívidas
Nas submersas, adversas
e secretas cavernas mais íntimas
onde habitam as deidades invisíveis
Oh os amores malditos!
O meu amante busca-me
e julga perder-me, na brancura
da neve intocada e austera
- 4 -
Questiono sempre o outono
seguindo-lhe as águas
propiciatórias às suas interioridades
de luz refractária
Errantes, as águias pairam
no cimo, planando cismadas
voando a quebradura e o equívoco
desapiedadas
Enquanto o meu amante
descrente da paixão
me vai deixando para trás
E exausto me abandona
desprendido e inclemente
Maria Teresa Horta, 22 Setembro 2013
NOTA: A elegia «Outono», embora estruturada em quatro partes e objecto de três posts nesta Página Oficial, é um poema único.
foto de MTH-Página Oficial
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segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Na morte de António Ramos Rosa
O TEMPO CONCRETO
O tempo duro
com estas unhas de pedra
este hálito podre
de órgãos esfomeados
estas quatro paredes de cinza e álcool
este rio negro correndo nas noites como um
[esgoto
O tempo magro
em que minhas mãos divididas
nitidamente separadas e caídas
ao longo dum corpo de cansaço
pedem o precipício a hecatombe clara
o acontecimento decisivo
O tempo fecundo
dos sonhos embrulhados repetidos como um hálito
[de febres
repassadas no travesseiro igual das noites e dos
[dias
das ruas agrestes e pequenas da mágoa
familiar e precisa como uma esmola certa
O tempo escuro
da peste consentida do vício proclamado
da sede amarfanhada pelas mãos dos amigos
da fome concreta dum sonho proibido
e do sabor amargo dum remorso invisível
O tempo ausente
dos olhos dum desejo de claras cidades
em que acenamos perdidos às soluções erguidas
com vozes bem distintas de cadáveres opressores
com gritos sufocados de problemas supostos
O tempo presente
das circunstâncias ferozes que erguem muros
[reais
dos fantasmas de carne que nos apertam as mãos
das anedotas contadas num outro mundo de cafés
e das vidas dos outros sempre fracassadas
O tempo dos sonhos
sem coragem para poder vivê-los
com muralhas de mortos que não querem morrer
com razões de mais para poder viver
com uma força tão grande que temos de abafar
no fragor dos versos disfarçados
O tempo implacável
em que jurámos de pé viver até ao fim
maiores dos que nós ser todo o grito nu
pureza conquistada no seio da vida impura
um raio de sol de sangue na face devastada
O tempo das palavras
numa circulação sombria como um poço
de ecos incontrolados
de timbres inesperados
como moedas de sangue cunhadas numa noite
demasiado curta e com luar demais
O tempo impessoal
em que fingimos ter um destino qualquer
para que nos conheçam os amigos forçados
para que nós próprios nos sintamos humanos
e estes fardo de trevas esta dor sem limites
a possamos levar numa mala portátil
O tempo do silêncio
em que o riso postiço dos fregueses da vida
finge ignorá-lo enquanto soluçamos
de raiva de razão reprimida revolta
e os senhores do bom senso passeiam divertidos
O tempo da razão
(e não da fantasia)
em que os versos são soldados comprimidos
que guardam as armas dentro do coração
que rasgam os seus pulsos para fazer do sangue
a tinta de escrever duma nova canção
António Ramos Rosa, in O GRITO CLARO, Colecção "A Palavra", n.º 1, Faro - 1958
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O tempo duro
com estas unhas de pedra
este hálito podre
de órgãos esfomeados
estas quatro paredes de cinza e álcool
este rio negro correndo nas noites como um
[esgoto
O tempo magro
em que minhas mãos divididas
nitidamente separadas e caídas
ao longo dum corpo de cansaço
pedem o precipício a hecatombe clara
o acontecimento decisivo
O tempo fecundo
dos sonhos embrulhados repetidos como um hálito
[de febres
repassadas no travesseiro igual das noites e dos
[dias
das ruas agrestes e pequenas da mágoa
familiar e precisa como uma esmola certa
O tempo escuro
da peste consentida do vício proclamado
da sede amarfanhada pelas mãos dos amigos
da fome concreta dum sonho proibido
e do sabor amargo dum remorso invisível
O tempo ausente
dos olhos dum desejo de claras cidades
em que acenamos perdidos às soluções erguidas
com vozes bem distintas de cadáveres opressores
com gritos sufocados de problemas supostos
O tempo presente
das circunstâncias ferozes que erguem muros
[reais
dos fantasmas de carne que nos apertam as mãos
das anedotas contadas num outro mundo de cafés
e das vidas dos outros sempre fracassadas
O tempo dos sonhos
sem coragem para poder vivê-los
com muralhas de mortos que não querem morrer
com razões de mais para poder viver
com uma força tão grande que temos de abafar
no fragor dos versos disfarçados
O tempo implacável
em que jurámos de pé viver até ao fim
maiores dos que nós ser todo o grito nu
pureza conquistada no seio da vida impura
um raio de sol de sangue na face devastada
O tempo das palavras
numa circulação sombria como um poço
de ecos incontrolados
de timbres inesperados
como moedas de sangue cunhadas numa noite
demasiado curta e com luar demais
O tempo impessoal
em que fingimos ter um destino qualquer
para que nos conheçam os amigos forçados
para que nós próprios nos sintamos humanos
e estes fardo de trevas esta dor sem limites
a possamos levar numa mala portátil
O tempo do silêncio
em que o riso postiço dos fregueses da vida
finge ignorá-lo enquanto soluçamos
de raiva de razão reprimida revolta
e os senhores do bom senso passeiam divertidos
O tempo da razão
(e não da fantasia)
em que os versos são soldados comprimidos
que guardam as armas dentro do coração
que rasgam os seus pulsos para fazer do sangue
a tinta de escrever duma nova canção
António Ramos Rosa, in O GRITO CLARO, Colecção "A Palavra", n.º 1, Faro - 1958
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Poesia
«OUTONO» - 2ª. PARTE
Segunda das quatro partes da elegia concluída por MTH anteontem, dia do equinócio de Outono.
OUTONO
- 2 -
Suspeito sempre do outono
caminho pelas suas
sombras furtivas e ruivas
algemada à turvidade
Seguindo o rasto das horas
fugidias, das luzes esquivas
do termo, nos finais de tarde
desorganizando os ventos
E as solidões vazias, por entre
os lobos e as raposas, à espreita
pelas frestas das noites de alquimia
Crepúsculo - acrescento
Não sabendo impedir
que se esgarcem, dia após dia
as inúmeras claridades findas
Equinócio no dealbar do verão
Luminescências esbatidas
à medida que as lâminas
do inverno se aproximam
no decorrer dos meses
Onde se tropeça nas lajes, nos líquenes
nas pedras, nas humidades da terra
nas raízes, nas incertezas do gelo
esvaído e desabrido
O meu amante busca-me
no pranto, pelo meio
dos cardos e dos abetos
Maria Teresa Horta, 22 Setembro 2013
Segunda das quatro partes da elegia concluída por MTH anteontem, dia do equinócio de Outono.
OUTONO
- 2 -
Suspeito sempre do outono
caminho pelas suas
sombras furtivas e ruivas
algemada à turvidade
Seguindo o rasto das horas
fugidias, das luzes esquivas
do termo, nos finais de tarde
desorganizando os ventos
E as solidões vazias, por entre
os lobos e as raposas, à espreita
pelas frestas das noites de alquimia
Crepúsculo - acrescento
Não sabendo impedir
que se esgarcem, dia após dia
as inúmeras claridades findas
Equinócio no dealbar do verão
Luminescências esbatidas
à medida que as lâminas
do inverno se aproximam
no decorrer dos meses
Onde se tropeça nas lajes, nos líquenes
nas pedras, nas humidades da terra
nas raízes, nas incertezas do gelo
esvaído e desabrido
O meu amante busca-me
no pranto, pelo meio
dos cardos e dos abetos
Maria Teresa Horta, 22 Setembro 2013
foto da Cronologia de MTH-Página Oficial
domingo, 22 de setembro de 2013
Poesia
«OUTONO»
Primeira das quatro partes do poema que Maria Teresa Horta concluiu hoje, 22 de Setembro de 2013, dia do equinócio de Outono.
OUTONO
- I -
Desconfio sempre do outono
ando pelos seus atalhos
observando as rotas que nos levam
até ao frio
Mostrando a queda mosqueada
da folhagem das árvores
da grossura do sol a transformar-se em fio
de gelo quebradiço
Perco-me pelas suas sigilosas
grutas de granizo
que me impedem de hibernar
de emigrar
Partindo de mim mesma
para lugares seculares
de menor desabrigo
até me encontrar
No inverso, no acesso
a um desassossego antigo
onde nunca consigo
defender-me deste frio maior
A gelar a névoa que me habita
a memória, prendendo-me
à correnteza gélida dos rios
Catarse - digo
Enquanto o meu amante
se transfigura, melancólico
e solitário na sua cama álgida
(...)
foto da cronologia de MTH- Página Oficial
sábado, 3 de agosto de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
sexta-feira, 12 de julho de 2013
E agora, Assunção Esteves?
É nos momentos de maior dificuldade que as pessoas se dão a conhecer. A entoação da voz, as palavras ou frases que espontaneamente saltam, a contensão dos gestos, são tudo formas de pôr a descoberto o que realmente somos. A nossa educação, a nossa cultura, a nossa autoridade, o nosso saber, e até a nossa simpatia!
O que aconteceu a Assunção Esteves na Assembleia da República, foi precisamente um teste a todas estas capacidades, e infelizmente, mas muito infelizmente, reprovou.
Foi uma situação criada por pessoas que, merecem toda a nossa benevolência. E em circunstancia nenhuma, a Presidente da Assembleia da República, pode perder a serenidade, a autoridade, não sabendo minimamente gerir a forma como normalizar a situação.
Não pode fechar portas, e não podem repetir-se esta nem outras cenas já passadas. Deve pedir a DEMISSÃO por incapacidade bem demonstrada para o exercício de tão elevado cargo.
Só mais um conselho: informe-se sobre Simone de Beauvoir e não a ofenda de um forma tão grosseira, porque não há pedido de desculpa nenhum que chegue para se penitenciar disso.
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quinta-feira, 11 de julho de 2013
11 de Julho de 1973
11 de Julho de 1973 foi o último dia de vida do meu Pai, que recordo e presto homenagem
com música que ele gostava, e violino, o instrumento que tocava.
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com música que ele gostava, e violino, o instrumento que tocava.
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quinta-feira, 27 de junho de 2013
A greve geral
Muito bem! A greve já passou e com sucesso ou sem ele, o direito à greve é um direito e eu até diria um dever de todos os que trabalham.
Usa-se a greve como medida de força, para exigir aquilo que o trabalhador não consegue por negociação com a entidade patronal, mas também como forma de protesto às governações que prejudicam os cidadãos. A meu ver é uma forma nobre de testemunhar o repúdio por acções que colocam em perigo a liberdade, a justiça ou o bem estar das pessoas. E não haverá sociedade democrática nenhuma em que esse direito não possa ser exercido por aqueles que trabalham, sob pena de o não ser.
Mas, lá está, por aqueles que trabalham, e não por os que já trabalharam ou por aqueles que estão impedidos disso pelo desemprego e até pela doença. Para estes não está previsto qualquer forma de luta.
E a análise que eu faço à greve geral de contestação ao governo que ocorreu hoje, e só o faço agora propositadamente, é que os mais atingidos pelas acções de terror do actual governo, são precisamente os reformados, os desempregados e os doentes; por razões bem conhecidas. E se a isto juntarmos o medo de colocar em risco o lugar de trabalho, a impossibilidade financeira de poder prescindir de um dia de salário, uma grande, enorme fatia da sociedade portuguesa não teve condições para fazer greve. Não foi contabilizada no rol dos contestatários.
Por isso, a greve, no momento actual por limitada, não é a forma mais eficiente ou eficaz para derrubar o governo.
Todos somos muitos; e é mais difícil resistir a muitos.
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sexta-feira, 21 de junho de 2013
O Subsídeo de Férias em Novembro!!!!!!!!!!
Os Portugueses, todos os anos, aguardam pela chegada do subsídio para fazerem férias!
Férias, sinónimo de praia.
Como o governo, pela pessoa do primeiro ministro, anunciou que só em Novembro os Portugueses o receberiam, pois será nessa data que as praias irão ser invadidas!.........
Eis uma ante-visão da entrada dos portugueses no mar, em Novembro, bem vestidinhos........que não vão constipar!
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Férias, sinónimo de praia.
Como o governo, pela pessoa do primeiro ministro, anunciou que só em Novembro os Portugueses o receberiam, pois será nessa data que as praias irão ser invadidas!.........
Eis uma ante-visão da entrada dos portugueses no mar, em Novembro, bem vestidinhos........que não vão constipar!
Winslow Homer
terça-feira, 11 de junho de 2013
Poesia
'Noite Estrelada', de Van Gogh.
ESCREVER
Com uma mão
dou-te tudo
com a outra descubro o nada
Uns dias sou
de veludo
outros de raiva vidrada
Entre a escrita onde me digo
e na escrita
onde me iludo
Há a escrita onde me escondo
e a outra
de meu abrigo
Tendo a razão como escudo
na porfia do disfarce
eu escrevo a ventania
Pelo meio da tempestade
Maria Teresa Horta, in «As Palavras do Corpo» (Dom Quixote /Leya, 2012).
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Maria Teresa Horta,
pintura,
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Van Gogh.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Pissarro no Thyssen
É de prever mais uma grande exposição deste museu.
O primeiro quadro colocado, foi este "Autorretrato", pintado em 1903, o último ano de vida de Pissarro; foi emprestado pela Tate de Londres.
Auto-retrato de 1903
A seu lado esta famosa paleta
la Rue des Voisins, pintado en Louveciennes en 1871
Cena doméstica
Cena doméstica
“La Côte des Boeufs, L’Hermitage” (1877) da National Gallery de Londres
E a troyka que se lixe..........
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quinta-feira, 25 de abril de 2013
No 25 de Abril a actualidade do Zé Afonso
Na Rua António Maria
da primaz instituição
vive a maior confraria
desta válida nação
E muita matula brava
ainda teimava
que havia de vir
um dia assim de repente
para toda a gente
voltar a sorrir
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Tem quatro letras pequenas
Mas outro nome não dão
Nesta fortaleza antiga
Só não muda a guarniç:ão
E muita matula ufana
cuidando que a mana
morrera de vez
deu graças
à D. Urraca
ao som da ressaca
que o pagode fez
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Na Rua António Maria
convenha a todos saber
a patriótica espia
sabe bem onde morder
vela p´la nossa morada
no vão de uma escada
Sem se anunciar
e oferece a quem bem destina
um quarto de esquina
com vistas pró mar
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Aldeia da roupa branca
suja de já não corar
O Zé Povo foi pra França
não se cansa de esperar
O capataz da fazenda
pôs a quinta à venda
para quem mais der
e os donos marcaram tentos
com novos intentos
doa a quem doer
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
José Afonso
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da primaz instituição
vive a maior confraria
desta válida nação
E muita matula brava
ainda teimava
que havia de vir
um dia assim de repente
para toda a gente
voltar a sorrir
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Tem quatro letras pequenas
Mas outro nome não dão
Nesta fortaleza antiga
Só não muda a guarniç:ão
E muita matula ufana
cuidando que a mana
morrera de vez
deu graças
à D. Urraca
ao som da ressaca
que o pagode fez
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Na Rua António Maria
convenha a todos saber
a patriótica espia
sabe bem onde morder
vela p´la nossa morada
no vão de uma escada
Sem se anunciar
e oferece a quem bem destina
um quarto de esquina
com vistas pró mar
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
Aldeia da roupa branca
suja de já não corar
O Zé Povo foi pra França
não se cansa de esperar
O capataz da fazenda
pôs a quinta à venda
para quem mais der
e os donos marcaram tentos
com novos intentos
doa a quem doer
Mas eles Conceição vão
lamber as botas
comer à mão
dum novo Pina Manique
com outra lábia
com outro tique
José Afonso
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quarta-feira, 24 de abril de 2013
Poesia
Pareces um mistério
intransponível
Alguém que se
esquivou
ao seu preceito
Na recusa
de obedecer à vida
Ao quererem-te domada
e desse jeito
dócil obediente submissa
«Impossível!» - respondeste
branda e esquiva
Sou mulher
Revoltosa
E poetisa
Maria Teresa Horta
in «Poemas para Leonor» (D. Quixote/Leya), pág. 71.
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Cravos Vermelhos
Bocas rubras de chama a palpitar,
Onde fostes buscar a cor, o tom,
Esse perfume doido a esvoaçar,
Esse perfume capitoso e bom?!
Onde fostes buscar a cor, o tom,
Esse perfume doido a esvoaçar,
Esse perfume capitoso e bom?!
Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas
Doidas de luz, ó almas feitas risos!
Donde vem essa cor, ó desvairadas,
Lindas flores d´esculturais sorrisos?!
Doidas de luz, ó almas feitas risos!
Donde vem essa cor, ó desvairadas,
Lindas flores d´esculturais sorrisos?!
…Bem sei vosso segredo…Um rouxinol
Que vos viu nascer, ó flores do mal
Disse-me agora: “Uma manhã, o sol,
Que vos viu nascer, ó flores do mal
Disse-me agora: “Uma manhã, o sol,
O sol vermelho e quente como estriga
De fogo, o sol do céu de Portugal
Beijou a boca a uma rapariga…”
De fogo, o sol do céu de Portugal
Beijou a boca a uma rapariga…”
Florbela Espanca
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sábado, 2 de março de 2013
A Manifestação de 2 de Março
A Manifestação já passou.
As pessoas saíram à rua e expressaram aquilo que estão a sentir, através de palavras, cânticos, cartazes e até pelo silêncio. Viam-se rostos que transmitiam a angústia, a desilusão, a raiva sem nada dizerem.
Mas os velhos e as crianças eram as presenças mais inquietantes; uns porque tiveram uma vida inteira de trabalho e, no momento de maiores necessidades, vêem as suas pensões arbitrariamente reduzidas; as outras, porque nas suas expressões de inocência, não se apercebiam que a sociedade que as rodeia se desmantela e elas terão no seu futuro de a reinventar. Será esse o legado que as espera.
Aspectos da manifestação no Porto
Na bela Praça da Liberdade
na Av. dos Aliados
quando se entoou Grândola Vila Morena
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