LUTO PELO POETA MEDIADOR DA LUZ
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O luto voltou a abater-se sobre Maria Teresa Horta. Esta manhã
acompanhou à sepultura, no Cemitério dos Prazeres, o poeta António Ramos
Rosa. É um luto profundo, que nasce das raízes da poesia de MTH. Foi,
de facto, António Ramos Rosa o poeta a quem a jovem Teresa confiou os
seus primeiros poemas, com pedido de parecer. Fê-lo por correio, em fins
de 1959, num sobrescrito registado e endereçado de Lisboa «ao poeta
António Ramos Rosa – Faro». Três dias depois, um telefonema de Ramos
Rosa louvava o talento da jovem poetisa e estimulava-a a publicar a
poesia em livro, propondo-se assegurar a respectiva edição. Assim
nasceu, em Maio de 1960, «Espelho Inicial». Mais tarde, em 1987, no seu
livro de estudos sobre a poesia portuguesa contemporânea «Incisões
Oblíquas», António Ramos Rosa salienta «a subversão do desejo» na
poética de Maria Teresa Horta. Segundo o autor, para MTH «é a própria
existência que emerge na sua palavra e
nela se apreende e se repercute. Seja directa, seja metafórica, a sua
linguagem tem a ardência vital do corpo e a sua violência sensual é, em
toda a sua irracionalidade, libertadora e subversiva». A relação de
amizade e admiração dos dois poetas manteve-se ao longo dos anos, tendo
Teresa garantido o exclusivo, remunerado (o que não era, nem é, vulgar),
da publicação de poemas de António Ramos Rosa no suplemento «Literatura
& Arte» de «A Capital». E, em Outubro de 2002, a pedido do poeta,
Maria Teresa Horta, lança, na Livraria Bulhosa, ao Campo Grande, o seu
livro «A Rosa Intacta» (ver foto abaixo). Esta tarde, no regresso do adeus ao
poeta, MTH escreveu o seguinte poema:
MEDIADOR DA LUZ
Para mim sempre foste
o poeta
mediador da luz
Transfigurando a realidade
em utopia, na sua triagem
de versos e palavras
Em busca da metamorfose
da claridade,
nas fundações da linguagem
Seduzindo a ilusão
pelo voo da asa
num abismo profundo
Aquele que toma o sonho
e o conduz,
mudando cada poema
em mundo
Maria Teresa Horta, 25 Setembro 2013
Texto e foto retirados da cronologia de MTH
FENOMENAL
ResponderEliminar"Aquele que toma o sonho
Eliminare o conduz,"
Está neste verso, aparentemente tão simples,a essência da poesia de A Ramos Rosa.