quarta-feira, 25 de setembro de 2013

LUTO PELO POETA MEDIADOR DA LUZ

  1. O luto voltou a abater-se sobre Maria Teresa Horta. Esta manhã acompanhou à sepultura, no Cemitério dos Prazeres, o poeta António Ramos Rosa. É um luto profundo, que nasce das raízes da poesia de MTH. Foi, de facto, António Ramos Rosa o poeta a quem a jovem Teresa confiou os seus primeiros poemas, com pedido de parecer. Fê-lo por correio, em fins de 1959, num sobrescrito registado e endereçado de Lisboa «ao poeta António Ramos Rosa – Faro». Três dias depois, um telefonema de Ramos Rosa louvava o talento da jovem poetisa e estimulava-a a publicar a poesia em livro, propondo-se assegurar a respectiva edição. Assim nasceu, em Maio de 1960, «Espelho Inicial». Mais tarde, em 1987, no seu livro de estudos sobre a poesia portuguesa contemporânea «Incisões Oblíquas», António Ramos Rosa salienta «a subversão do desejo» na poética de Maria Teresa Horta. Segundo o autor, para MTH «é a própria existência que emerge na sua palavra e nela se apreende e se repercute. Seja directa, seja metafórica, a sua linguagem tem a ardência vital do corpo e a sua violência sensual é, em toda a sua irracionalidade, libertadora e subversiva». A relação de amizade e admiração dos dois poetas manteve-se ao longo dos anos, tendo Teresa garantido o exclusivo, remunerado (o que não era, nem é, vulgar), da publicação de poemas de António Ramos Rosa no suplemento «Literatura & Arte» de «A Capital». E, em Outubro de 2002, a pedido do poeta, Maria Teresa Horta, lança, na Livraria Bulhosa, ao Campo Grande, o seu livro «A Rosa Intacta» (ver foto abaixo). Esta tarde, no regresso do adeus ao poeta, MTH escreveu o seguinte poema:

MEDIADOR DA LUZ

Para mim sempre foste
o poeta
mediador da luz

Transfigurando a realidade
em utopia, na sua triagem
de versos e palavras

Em busca da metamorfose
da claridade,
nas fundações da linguagem

Seduzindo a ilusão
pelo voo da asa
num abismo profundo

Aquele que toma o sonho
e o conduz,
mudando cada poema

em mundo


Maria Teresa Horta, 25 Setembro 2013
 Texto e foto retirados da cronologia de MTH

2 comentários:

  1. Respostas
    1. "Aquele que toma o sonho
      e o conduz,"

      Está neste verso, aparentemente tão simples,a essência da poesia de A Ramos Rosa.

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