quinta-feira, 5 de junho de 2014

Um passeio no Douro I

 1º dia

 Um passeio no Douro, por terras Agustinianas, teve o objectivo de visitar lugares onde se desenvolve a história do livro Vale Abraão.
  
"No Vale Abraão, lugar dum homem chamado inutilmente à consciência do seu orgulho, da vergonha, da cólera, passavam-se coisas que pertenciam ao mundo dos sonhos, o mundo mais hipócrita que há" Agustina Bessa Luís.

Este livro,Vale Abraão,  destinou-se a servir de guião ao filme de Manoel de Oliveira com o mesmo nome e, sem dúvida, que a obra ficou muito valorizada.
Foi um passeio muito interessante orientado por pessoas conhecedoras da literatura e da região.
Começamos pela Quinta da Pacheca, local onde Oliveira rodou várias cenas do filme Vale Abraão, com prova de vinhos e onde almoçamos.


                                                  Na Quinta da Pacheca


Adega da Quinta da Pacheca


 Depois de almoço,  passando por Vale Abraão até Godim,  vimos aí a casa que serviu de cenário a alguns episódios do filme e onde foi descerrada uma lápide na entrada da casa onde  a  Agustina viveu e. onde Oliveira filmou também algumas cenas.

Deste vale, diz Agustina no seu livro: - "Porém, há na curva que apascenta o rio pelo rechão areento, ao sair da Régua, um vale ribeiro de produção de vinhos ainda de cheiro e que se estende, rumo à cidade de Lamego, comarca a que pertence, até às águas medicinais de Cambres. É o Vale Abraão, com suas quintas e lugares e sombra que parecem acentuar a memória dum trânsito mourisco que de Granada trazia as mercadorias do Oriente e, porventura, os gostos de pomares de espinho e dos vergéis de puro remanso".


Vale Abraão

 
Quinta de Vale Abraão, casa de  Carlos Paiva
hoje  Hotel de luxo, depois de um incêndio

Agustina, no seu livro, descreve assim esta casa:

(...)Em Vale Abraão estava a casa de Carlos Paiva. Nada de orgulhar ninguém; um amontoado de sobrados, de pequenas salas e alcovas, e eidos que se foram juntando, como para se aquecerem, e que resultara num incongruente encosto de telhados e goteiras, portas esconsas e janelas desiguais(...)


Em Godim, a casa de Ema -  o Romesal


Lê-se no Vale Abraão:

(...)O velho deu-lhe o endereço do Romesal; era a margem direita do Douro, uma quinta mediana, com jardim sobre a estrada. Paulino Cardeano convidou Carlos e disse que se estivesse doente o chamava.(...)

 (...)Carlos de Paiva viu-se um dia a sair do seu carrinho sujo e que cheirava a alcool canforado, a perguntar pelo Romesal a dois moços que desciam pela estrada.
- Depois da curva, mas vá com cuidado.
Riram-se alto e foram pelo caminho abaixo(...)
(...)O facto de Ema frequentar muito a varanda provocava bastantes percalços. Ao desfazer a curva da estrada, era forçoso levantar os olhos para a pessoa alí debruçada; e não havia motorista que ficasse indiferente. O choque da beleza ofuscava-o, isto sem querer exagerar. Perdiam por momentos o controlo e eram rudemente projectados contra a parede; outras vezes chocavam de frente com o carro que subia em sentido contrário e que não tinha maneira de se desviar, posto que o muro da propriedade de Ema era uma espécie de baluarte com quatro metros de altura. (...)
(...) As coisas foram piorando e chegaram aos ouvidos das autoridades. Uma manhã, pelas onze horas e pico, o Paulino Cardeano teve a visita do presidente da Câmara em pessoa.(...)
(...) - A sua filha é um perigo para o trânsito nesta estrada.(...)
(...) - Não sei o que a minha filha... - ia a começar a dizer o Cardeano. Mas o presidente interrompeu-o.
- Ela não tem culpa, é evidente. Mas aquela varanda é muito capaz de não estar bem colocada. Seria bom mudá-la de sítio.
- Mudar a varanda? - disse Cardeano. A sua pequena cabeça calva cobriu-se dum tom arroxeado que alarmou o presidente(...)   

                                    Ao lado do Romesal viveu Agustina                                                  
                                              Ficou assinalado nesta lápide

Entrada e jardim da casa onde viveu Agustina.
Motivo de inspiração dos artistas que nos acompanhavam

Rumo à Régua


Na Câmara Municipal da Régua realizou-se uma sessão na biblioteca, onde se fez a apresentação e prova do vinho Sibila, assim como o lançamento das últimas obras de Agustina.

                                                Rua defronte à Câmara Municipal


À noite, assistimos à projecção do filme de Manoel de Oliveira, Vale Abraão

23, Maio 2014

(continua)

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