A dança da vida - Edvard Munch
"A Segurança Social só garante a reforma por mais um período de oito anos".
A notícia estalou numa voz vibrante, clara, com a exaltação de quem anseia pelo efeito da grande audiência. Depois veio a justificação, e a clarificação das consequências. E, dizia: embora a esperança de vida tenha tendência a aumentar, passando por isso a haver mais velhos, muitos deles irão morrer. E pelo modo da notícia, isso até dava jeito. É claro que isso é a realidade; mas o que eu supunha, era que o jornalista já saberia disso antes; e não precisava de tanto entusiasmo para o constatar.
Esta notícia, porque me atingia particularmente, pôs-me a fazer contas. E, das várias hipóteses que dela poderiam resultar, curiosamente, nenhuma tinha nexo. Quando os anos, cautelosos, reclamavam a sua posição dianteira, logo o cérebro, reclamava a sua posição em retaguarda. Neste impasse, e se a nossa vida é a que o nosso cérebro nos dá, as contas anunciadas pelo jornalista não batiam certas.
Então, "que se lixe" a notícia e o jornalista.
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