sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia

rua de Guimarães





Há sol na rua

Há sol na rua
Gosto do sol mas não gosto da rua
Então fico em casa
À espera que o mundo venha
Com as suas torres douradas
E as suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas que são alegres
Ou são pagas para cantar
E à noite chega um momento
Em que a rua se transforma noutra coisa
E desaparece sob a plumagem
Da noite cheia de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então saio para a rua
Ela estende-se até à madrugada
Um fumo espraia-se muito perto
E eu ando no meio da água seca .
Da água áspera da noite fresca
O sol voltará em breve


Boris Vian
canções e poemas

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sábado, 5 de maio de 2012

Poesia

                                                      Arte Russa sec.XX(Museu Pushkin)

A Criança que Pensa em Fadas

 A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


quinta-feira, 3 de maio de 2012

O 3 de Maio de 1808



O quadro "O 3 de maio de 1808"  pintado por Francisco Goya (1746-1828) em 1914,   narra um dos momentos mais significativos da resistência espanhola à invasão das tropas de Napoleão Bonaparte. A este quadro liga-se um outro, "O 2 de maio de 1808" (pintado igualmente em 1814), que relata o primeiro episódio deste acontecimento, ocorrido na véspera. Na manhã de 2 de maio, o lugar tenente de Napoleão, o general Murat, seguido por uma coluna de cavalaria, foi atacado por um grupo de populares armados, enquanto atravessava a Porta do Sol em Madrid. Tendo rapidamente controlado a situação, os franceses, como represália , ordenaram o fuzilamento de inúmeros civis. Estes massacres tiveram lugar durante o dia seguinte, em vários pontos da cidade, e são conhecidos pelos "Fuzilamentos de 3 de Maio"




O quadro divide-se em dois sectores: uma zona de sombra acentuada pela frieza das cores onde estão representados os soldados franceses; a outra representa o grupo de condenados inundados por intensa luz com tons amarelos e vermelhos, onde se destaca bem iluminada a camisa branca de um dos condenados. De carácter marcadamente expressionista, caracteriza-se por pinceladas rápidas  de um cromatismo particularmente violento,  e por um tenebrismo de dramáticos contrastes de luz e sombra.
 Os quadros "O 2 de maio de 1808" e "O 3 de maio de 1808", executados a óleo, sobre tela, encontram-se expostos no Museu do Prado, em Madrid.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Maio


O maravilhoso e belo mês de Maio
Sempre traz à memória Schuman -Heine - Dichterliebe 

terça-feira, 24 de abril de 2012

O 25 de Abril



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas


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sábado, 14 de abril de 2012

POESIA

Douro

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
"

Ricardo Reis


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segunda-feira, 9 de abril de 2012

à minha irmã


Para que este olhar não desapareça da nossa memória.

Que transmitiria ele aos escuros corredores dum cérebro que se recusava a guardar as palavras?
Pouco sabemos disso!
Mas a pessoa serena, boa, sensível, que nos amava e amava a vida, essa, enquanto pudermos não nos esqueceremos dela.

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