E é neste mundo em desequilíbrio que surgem, mesmo assim, pessoas grandes que são capazes de projectos, que contrariando tudo aquilo que nos querem fazer crer, põem "inimigos" a trabalharem em conjunto, transmitindo ideias de paz, beleza, harmonia e solidariedade.
A este propósito escrevi há já alguns anos:
Aplausos para
Daniel Barenboim e a sua West-Eastern Divan Orchestra
As palavras, no nome da orquestra,
West-Eastern Divan referem-se a uma colecção de poemas de Goethe em homenagem a
este poeta alemão, pela sua universalidade, e que curiosamente começou a
estudar arábico com mais de sessenta anos.
A orquestra, constituída por jovens músicos
israelitas e de outros países do Médio Oriente, não é apenas um projecto
musical, mas visa estabelecer um diálogo entre países de culturas
tradicionalmente rivais. Os trabalhos tiveram início em Chicago em 2002, mas a
orquestra veio a estabelecer-se em Sevilha em 2004 graças ao apoio
institucional e financeiro do Governo da Região Autónoma da Andaluzia. Criaram
a Fundação Barenboim-Said com sede em Sevilha, e a Barenboim-Said Foundation
USA nos Estados Unidos; mas esta, só para angariação de fundos. O projecto é
liderado por Barenboim e por Maria Said, viúva de Edward Said. A base da
orquestra é constituída por um número igual de músicos israelitas e
palestinianos aos quais se juntam músicos da Andaluzia e ainda outros alunos
como observadores. O Governo da Andaluzia atribui bolsas aos alunos dotados e com
poucos recursos económicos, para estudarem na Europa e nos Estados Unidos.
A orquestra têm-se apresentado em diversos
países europeus, e americanos, tendo actuado pela primeira vez num país árabe
em 2003, (Rabat) e em 2005 na Palestina(Ramallah). Tem gravado CDs/DVDs.
Com uma programação excelente, Barenboim
dirigiu a orquestra com a sua forma muito peculiar, não excedendo o gesto e não
faltando o necessário. Imprime confiança, sentimento, rigor. No final a plateia
manteve-se de pé aplaudindo continuada e energicamente. Veio-me à memória o que
se passou no Coliseu há uns anos a traz; Barenboim regia a Sinfónica de Chicago
e tocava Mahler. Quando terminou, a assistência levantou-se de uma só vez, como
uma mola. Ouviu-se um ah!!! abafado, de
espanto, e soltaram-se os aplausos!
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