Representa as Três Graças ou Cárites, que na mitologia grega são as deusas da beleza, da sedução, da fertilidade, da natureza e da dança. Filhas de Zeus e Hera, estão associadas a Afrodite, deusa do amor, ou a Vénus, na mitologia romana.
Moram no Olimpo, na companhia das Musas, com as quais às vezes formam coros. São também dançarinas e dada a sua predilecção especial pela música, fazem parte do séquito de Apolo, o deus da música.
O nome de cada uma delas varia nas diferentes lendas, mas o trio mais frequente é:
Aglaia - a claridade
Tália - a que faz brotar flores
Eufrosina - o sentido da alegria
As Três Graças de Rubens - Museu Nacional do Prado
Quando as olhamos, impressiona-nos a imperfeição das formas. Contudo, elas são uma reprodução perfeita de alterações anatómicas que, só muito mais tarde, foram descritas e classificadas como doença.
A figura do centro apresenta a coluna em forma de S, ( escoliose ) de forma bem nítida; e ao apoiar-se sobre a perna esquerda, a anca descai para o lado direito.
Numa pessoa normal a anca elevar-se-ia. Este sinal foi descrito por Friedrich Trendelenburg (1843-1924), cirurgião alemão e que se encontra nas situações em que a contractilidade dos músculos nadegueiros, especialmente o médio, está diminuída.
O sinal de Trendelenburg é positivo, quando a anca de uma pessoa na posição de pé, apoiada somente numa perna, descai para o lado da perna levantada.
A figura da esquerda tem os dedos em hiper-extensão, bem marcada nas articulações das inter-falanges distais, bem como nas metacarpo-falanges dos quarto e quinto dedos.
pormenor
Apresenta também a deformidade em pescoço de cisne.
Em todas as três figuras se observa hiperlordose da coluna lombar e pés planos.
Pensa-se que uma das retratadas será Hélène Fourment, segunda mulher de Rubens e as outras suas irmãs. Esse facto pode explicar as alterações anatómicas como fazendo parte de um síndrome descrito em 1967, designado por hipermobilidade familiar benigna.
É um distúrbio hereditário do tecido conjuntivo, associado a patologia músculo-esquelética.
O interessante, sem dúvida, é a acuidade apurada do artista e a reprodução de um conjunto de sinais que, só muito mais tarde, virá a ser descrito na literatura médica.
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Achei muito interessante o post! Sobretudo por saber que é uma médica quem fala.
ResponderEliminarEstas três graças são afinal muito "normais", diria quase "caseiras"...
Não gosto muito de Rubens, mas...sofro da escoliose da 2ª "graça" e fiquei com pena dela!
As minhas graças preferidas são as do BOticelli, essas "perfeitas". É pela Utopia que vamos!
Um abraço
o falcão
Obrigada pelo comentário. Lamento a sua escoliose; procure nadar em piscina aquecida, de costas.
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