domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Casaco de Peles

foto da web

Em Nov. de 2008 comentei no Art&manha um recital de piano de Fausto Neves no Palácio da Bolsa. Ao ler aqui : "Piere-Laurent Aimard na Casa da Música" de Paulo Bastos, imediatamente me deu vontade de reler o que na altura tinha escrito; e, dada a semelhança de situações que os anos não corrigiram, vou publicar uma parte desse comentário:

" A GOLA DA MINHA CAMISA"

(...) Mas já há alguns anos que não ia a recitais no Palácio da Bolsa; e a minha perplexidade estacou ao ver que se mantém a clientela do « casaco de peles». O «casaco de peles»comporta um duplo sentido; para além da desnecessária opulência e de algum mau gosto, as suas donas mexem-se, segredam, dão um movimento ritmado ao programa que têm nas mãos, provocando um ruído surdo, impertinente, irritante e que, sem dúvida, significa uma total ausência àquilo que está a acontecer. Até tocou um TM num daqueles momentos de transcendente melancolia, tão bem conseguidos, na 4ª de Chopin.

E o tema que preocupava duas dessas damas situadas imediatamente atrás de mim, era se estaria a chover à saída, porque as peles do casaco, embora já o tivesse levado à Dinamarca, Suécia e não sei mais quê,nunca tinha apanhado chuva. Já o da outra era à prova de água. E então o raciocínio brotou eloquente: «sabes, deves comprar peles de animais que se molham» sic.

Havia muita gente muito atenta, isso é verdade.

Mas esta plateia fez-me lembrar a resposta dada por Chopin aos 7 anos, quando lhe perguntaram, de que é que a assistência teria gostado mais, depois do seu recital; ao que ele respondeu : «… da GOLA DA MINHA CAMISA».

Porto Nov. 2008

C.C.

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