terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Poesia




Sta. Maria do Bouro


                                      PÁTRIA
                                           
 

                                   Por um país de pedra e vento duro
                                   Por um país de luz perfeita e clara
                                   Pelo negro da terra e pelo branco do muro
 
                                   Pelos rostos de silêncio e de paciência
                                   Que a miséria longamente desenhou
                                   Rente aos ossos com toda a exactidão
                                   Dum longo relatório irrecusável
 
                                   E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
 
                                   E pela limpidez das tão amadas
                                   Palavras sempre ditas com paixão
                                   Pela cor e pelo peso das palavras
                                   Pelo concreto silêncio limpo das palavras
                                   Donde se erguem as coisas nomeadas
                                   Pela nudez das palavras deslumbradas
 
                                   - Pedra rio vento casa
                                   Pranto dia canto alento
                                   Espaço raiz e água
                                   Ó minha pátria e meu centro
 
                                   Me dói a lua me soluça o mar
                                   E o exílio se inscreve em pleno tempo


                                             Sofia de Mello Breyner Andresen

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

na memória de Zeca Afonso

Só se calou a 23 de Fevereiro de 1987

Os tempos podem ter mudado, as pessoas podem não ser as mesmas e o regime também não, mas se os Portugueses se unirem e lutarem por um Portugal melhor, não há cá ministro que nos pare!




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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Até quando?

Picasso-Guernica (pormenor)

As notícias sobre as mães que se suicidam levando consigo os seus filhos, têm-se avolumado de forma preocupante.
É um drama que choca e emociona, mas choca ainda mais, continuarmos a assistir à rudeza das conversas de políticos e analistas, cifradas unicamente nas contas de merceeiro do deve e do haver.
Não se ouve nunca a discussão de princípios onde se fundamentem as orientações do rumo que queremos seguir. É a lei do tudo vale, desde que as contas se acertem para as conveniências daqueles que tudo possuem.
E o país, que é de brandos costumes, caminha de braços caídos, a rapelhar os pés enquanto tem alpercatas; porque quando já as não tiver, irá caindo e, poucos chegarão ao fim da linha.
Até quando?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Poesia



 As Casas













As casas habitadas são belas 
se parecem ainda uma casa vazia 
sem a pretensão de ocupá-las 
tornam-se ténues disposições 
os sinais da nossa presença: 
um livro 
a roupa que chegou da lavandaria 
por arrumar em cima da cama 
o modo como toda a tarde a luz foi 
entregue ao seu silêncio 

Em certos dias, nem sabemos porquê 
sentimo-nos estranhamente perto 
daquelas coisas que buscamos muito 
e continuam, no entanto, perdidas 
dentro da nossa casa 


José Tolentino Mendonça