quinta-feira, 28 de junho de 2012

Textos ao Acaso


 Forum-Madrid


    Mude

Edson Marques


Mas comece devagar, porque a direcção
é mais importante que a velocidade.
Mude de caminho, ande por outras ruas,
observando os lugares por onde você passa.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Descubra novos horizontes.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
Busque novos amigos, tente novos amores.
Faça novas relações.
Experimente a gostosura da surpresa.
Troque esse monte de medo por um pouco de vida.
Ame muito, cada vez mais, e de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, de atitude.
Mude.
Dê uma chance ao inesperado.
Abrace a gostosura da Surpresa.
Sonhe só o sonho certo e realize-o todo dia.
Lembre-se de que a Vida é uma só,
e decida-se por arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação, um trabalho mais prazeroso,
mais digno, mais humano.
Abra seu coração de dentro para fora.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Exagere na criatividade.
E aproveite para fazer uma viagem longa,
se possível sem destino.
Experimente coisas diferentes, troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você conhecerá coisas melhores e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, a energia, o entusiasmo.
Só o que está morto não muda !


. Edson Marques, formado em Filosofia pela USP, é um escritor e poeta brasileiro. Participou da fundação da Ordem Nacional dos Escritores.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

textos ao acaso

 Outros lugares-Peterhof com o Báltico em fundo


MUDANÇA

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção os lugares por
onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus
sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire
uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no
parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir
em outras camas. Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade.
Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o
novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos
amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome
outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro
creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros
lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro,
compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses
horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros
cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente
em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um
trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais
humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa,
se possível sem destino. Experimente coisas novas.
Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra
vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas
piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que
importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o
dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não
vale a pena!

 ***Texto de Clarice Lispector

Judia, Clarice nasceu na Ucrânea durante a viagem de emigração da família em direcção à América em 1920, e morreu no Rio de Janeiro em 1977.

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poesia





  Dizia uma vez Aquilino...
 
Dizia uma vez Aquilino que em Portugal
os filósofos se exilavam ainda em seu país
(v.g. Spinoza). O curioso porém
é que também ninguém foi santo lá:
os nascidos em Portugal foram todos sê-lo noutra parte
(St. António, S. João de Deus, etc.)
e outros santos portugueses, se o foram,
terá sido, porque, estrangeiros que eram e em Portugal
vivendo, não tiveram outro remédio
(v.g. Rainha Santa) senão ser santos,
à falta de melhor. Oh país danado.
Porque os heróis também nunca tiveram melhor sorte
(Albuquerque e outros que o digam) a menos que
tivessem participado de revoluções feitas
"em vez de" (v.g. o Condestável que fez 
fortuna e a casa de Bragança e acabou só Santo quase).

Jorge de Sena

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Poesia


 Jardim do Passeio Alegre


AQUI NÃO SOMOS


... Aqui não somos
 mais do que o raso espaço que nos cerca, apetecível vôo para os olhos
 e limitado gesto para as mãos.
 Aqui não somos
 menos que esforço e pausa de cansaço, pesado corpo de silêncio grave
 e uma só hipótese de esperança.
 Aqui não somos
 senão soluços adiados, lágrimas
 correndo impuras, secas e nos lábios
 um último sorriso anunciado.

 José Augusto Seabra

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sábado, 9 de junho de 2012

Poesia

Jardins da Gulbenkian
Vive


Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas
como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


Alberto Caeiro

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Música

Bach por Rosalyn Tureck




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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Música


 A maravilhosa Sara Mingardo

 


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